sábado, 30 de abril de 2011

Walter Benjamin - Magia e Técnica - Arte e Política


Walter Benjamin - Magia e Técnica - Arte e Política

Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu em Berlim, em 15 de julho de 1892 e morreu em Portbou, na data de 27 de setembro de 1940. Era um filósofo e sociólogo judeu alemão.Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi inspirado pelo místico judaico Gerschom Scholem.

Ele afirmava que há laços entre vida e palavra, evidenciando que a consciência decorre das práticas sociais e culturais da educação não formal. Ele dizia que “esse caráter de comunidade entre vida e palavra apóia-se na organização pré-capitalista do trabalho, em especial na atividade artesanal". Afirmava que "o artesanato permite, devido aos seus ritmos lentos e orgânicos, em oposição à rapidez do processo do trabalho industrial, e devido a seu caráter totalizante, em oposição ao trabalho fragmentário do trabalho em cadeia, por exemplo, uma sedimentação progressiva das diversas experiências e uma palavra unificadora".

Walter Benjamin tem razão, pois "o ritmo do trabalho artesanal se inscreve em um tempo mais global, tempo em que se tinha justamente, tempo para contar".

De acordo com ele, "os movimentos precisos do artesão, que respeita a matéria que transforma, têm uma relação profunda com a atividade narradora: já que esta é também, de certo modo, uma maneira de dar forma à imensa matéria narrável, participando assim da ligação secular entre a mão e a voz, entre o gesto e a palavra”. (Gagnebin, Apud Walter Benjamin, 2008, 10 e 11 - Magia e Técnica - Arte e Política).

Walter Benjamin afirma que quando este fluxo que liga mão e voz se rompe, quando não há mais a transmisão de uma experiência, porque as pessoas não se interessam mais umas pelas outras, cada uma passa a viver de forma isolada e neste compasso memória e tradição já não mais existem e o indivíduo se torna isolado. Assim, seguindo desorientado e com base somente em seus próprios recursos pessoais, desorienta-se e não tem mais com quem compartilhar. e torna-se um desaconselhado.

Nesta nova fronteira de tempo, precisamos de novas narrativas, novas fabulações pois as grandes narrativas como a globalização; trabalho para todos, não funcionam mais. Nós teremos que reinventar a vida e construir novos sonhos, num ato criativo de bricolagem de símbolos, significados e valores passíveis de reinvenção permanente e de experimentação livre” (BECK ; BECK-GERNSHEIM E ALAIN EHRENBERG, Apud BENDASSOLI, 2007, 294 - Trabalho e Identidade em Tempos Sombrios).

Parafraseando Benjamin, a narração não é de modo algum um produto só da voz. A alma, o olho e a mão definem uma prática e esta nos deixou de ser familiar, porque o trabalho produtivo foi sendo transformado em tecnologia e o lugar que o trabalho ocupava durante a narração está agora vazio. Sua voz se calou!

Na verdade o narrador é a figura na qual o humano se encontra consigo mesmo e sem narrativas (conjuntas, participativas) o ser humano está despossuído de si mesmo, vagando pela estrada que ao final, não vai dar em lugar nenhum!

Fonte: http://conhecimentoefilosofia.blogspot.com/2011/01/walter-benjamin-magia-e-tecnica-arte-e.html
acesso março 2011

sábado, 23 de abril de 2011

O tempo e a atualidade de Walter Benjamin

O tempo e a atualidade de Walter Benjamin

Um dos intelectuais mais influentes do século 20, Walter Benjamin sempre procurou associar seu pensamento às questões de seu tempo. Sua trajetória intelectual pode muito bem ser lida como esforço de um autor comprometido com a reflexão crítica sobre sua época. Nascido na cidade de Berlim, em 1892, de origem judaica, Benjamin estudou filosofia e literatura nas universidades de Freiburgo, Berlim e Munique. Durante a I Guerra Mundial, emigra para a Suíça, onde, em 1919, obtém o título de doutor na Universidade de Berna, com um trabalho sobre o conceito de crítica de arte no romantismo alemão. Nos anos seguintes, período conhecido na Alemanha como República de Weimar (1919-1933), Benjamin trabalhou como crítico literário publicando em importantes jornais da época.

Uma de suas contribuições foi escrever sobre a chamada perda da experiência.Nos seus relatos, usou como imagem um acontecimento depois da primeira guerra mundial, questionava por que os soldados que voltavam da guerra regressavam sem nada para contar, mudos?

“Não era perceptível ao fim da guerra que os homens que voltavam dos campos de batalha haviam ficado mais silenciosos, não mais ricos e sim mais pobres em experiência comunicável. Se aceitarmos a noção de que a narrativa deriva da necessidade humana básica de explicar a realidade, não é surpreendente que houvesse menos entusiasmo a seu respeito em 1919. Como alguém poderia esperar poder explicar qualquer coisa no mundo onde a tecnologia humana movida pela cobiça humana havia mudado tudo, exceto as nuvens no céu?” (Walter Benjamin)

Por que os soldados voltavam sem nada para contar? Vazios de experiência?Walter Benjamin usou a idéia do Freud, a função permanente da consciência de aparar choques e de reagir a estímulos impede não só a consistência psíquica do que foi vivido, porque não dá para o psiquismo acompanhar e representar, memorizar e criar uma narrativa para o que foi vivido, como impede a transmissão.

Para Freud, isso é experiência, a qual é a obra psíquica de uma vida inteira, ou seja, poder narrar para mim mesmo o que eu estou vivendo e achar que algo disso que eu estou vivendo pode ser transmitido para o outro, de forma em que se cria uma espécie de corrente e a vida não pertence apenas àquele que vive, mas uma vida que se transmite, a sabedoria de vida, o legado.

Para Benjamin, o homem contemporâneo perdeu o valor da experiência, contrapondo a palavra experiência à palavra vivência. Essa vivência que não produz narrativa nem transmissão.

sábado, 16 de abril de 2011

Walter Benjamin... mas com o pensamento na modernidade


Walter Benjamin... mas com o pensamento na modernidade

Em “O narrador”, Benjamin formula uma outra experiência: além de constatar o fim da narração tradicional, esboça a ideia de uma outra narração – uma narração nas ruínas da narrativa, uma transmissão entre os cacos de uma tradição em migalhas; portanto, uma renovação da problemática da memória.

O narrador não tem por alvo recolher os grandes feitos. Deve muito mais apanhar tudo aquilo que é deixado de um lado como algo que não tem significação, algo que parece não ter nem importância nem sentido, algo com que a história oficial não sabe o que fazer. Ou ainda: o narrador e o historiador deveriam transmitir o que a tradição, oficial ou dominante, justamente não quer recordar.

Em “O narrador”[Walter Benjamin et al. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Os pensadores], Walter Benjamin repercorre a história da arte de narrar observando-a de um ângulo que absorve o avanço técnico, mas que percebe a perda de humanismo. Ele anota: “O indício mais remoto de um processo em cujo término se situa o declínio da narrativa é o advento do romance no início da Era Moderna.

O que separa o romance da narrativa (e do gênero épico em sentido estrito) é sua dependência essencial do livro. A difusão do romance só se torna possível com a invenção da imprensa. A tradição oral, patrimônio da épica, tem uma natureza diferente da que constitui a existência do romance. O que distingue o romance de todas as outras formas de criação literária em prosa – o conto-de-fadas, a saga, até mesmo a novela – é o fato de não derivar da tradição oral, nem entrar para ela. Mas isso o distingue sobretudo da ação de narrar. O narrador colhe o que narra na experiência, própria ou relatada. E transforma isso outra vez em experiência dos que ouvem sua história. O romancista segregou-se. O local de nascimento do romance é o indivíduo na sua solidão, que já não consegue exprimir-se exemplarmente sobre seus interesses fundamentais, pois ele mesmo está desorientado e não sabe mais aconselhar.

LIVROS - Onde buscar conhecimento e ensinamentos históricos para superar os desafios da realidade? Walter Benjamin respondeu com a sua prática: nos livros. O conhecimento e a experiência antes guardados na memória, hoje têm o seu lugar de armazenamento privilegiado nos livros. Mas a profusão de informação circulante não nos permite a simplificação hedonista. Experiência de vida e experiência de leitura, quando bem orientadas, podem iluminar o próximo passo.

Os textos críticos dirigidos à questão do poder e do direito (“Crítica da violência, crítica do poder”, de 1921), crítica do que ele denominou de concepção “burguesa”, ou seja, instrumental, da linguagem (“A tarefa do tradutor”, de 1921, e do artigo de juventude “Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem dos homens”, de 1916). Refletiu em vários ensaios críticos sobre questões como a da coleção e do colecionismo (textos sobre coleção de brinquedos e de livros), escritos voltados para a recordação de sua infância (Crônica berlinense e Infância e, Berlim) são profundamente inovadores.

Sua produção crítica era, ao mesmo tempo, teoria da literatura (como as de Proust, Kafka, Brecht, Goethe, Hebel etc). Seu livro sobre o drama barroco alemão, e as reflexões que acompanham as notas de seu trabalho que ficou incluso sobre as passagens de Paris são mais eloquentes. Com Benjamin aprendemos que a cultura é a partir de meados do século 20 toda ela como que transformada em um documento e, mais ainda, ela passa a ser lida como testemunho da barbárie.

Diante das radicais mudanças ocorridas na humanidade ao longo do século XX (século de avanços tecnológicos gigantescos, mas também de uma violência e de uma capacidade genocida nunca antes posta em prática como então) Benjamin procurou “soprar” sobre este novo homem e esta nova paisagem, palavras e imagens que deveriam nos ajudar a perceber nossos novos contornos. Ajudar a realizar o design da humanidade na era da sua reprodução sintética.

A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, seu texto mais influente no campo da história da arte foi publicado em 1936. Nele, Benjamin trata da perda “aurática” da obra de arte, em função das novas técnicas de reprodução, cujo paradigma estaria no cinema e na fotografia, artes nas quais se perde a distinção entre cópia e original. Ele analisa as conseqüências no desenvolvimento da própria arte, as mudanças na percepção do espectador e os impactos sociais e políticos que se desdobrariam a partir desse novo paradigma.

sábado, 9 de abril de 2011

Crítica da cultura moderna na filosofia de Walter Benjamin...Arte massificada… e exposta


Crítica da cultura moderna na filosofia de Walter benjamin...Arte massificada… e exposta

Walter Benjamin é um importante filósofo do século XX. Ele pertenceu à famosa Escola de Frankfurt, cujos resultados são de uma brutal fecundidade para o pensamento contemporâneo.

“No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência”. Essa é a frase dita por Walter Benjamin, na qual percebemos que o homem é totalmente influenciado pelo meio em que vive.

O ser humano que vive no capitalismo pós-industrial é marcado por idéias e concepções lançadas pela indústria cultural, pela indústria que determina o nosso modo de vida por curtos períodos constantes de tempo.

A aura é uma contemplação, uma coisa que aparece distante, mesmo que esteja perto. As massas atualmente, entretanto, não querem o distanciamento! Ao contrário, elas querem ter algo o mais próximo possível, perdendo o caráter único de cada coisa. Logo, a aura é destruída e ao invés da unidade e durabilidade, temos a transitoriedade e repetibilidade (imagem).

Foi também por seguir os conceitos impostos pela sociedade na indústria cultural que o valor de culto (obras criadas a serviço de um ritual) deu lugar ao valor de exposição (obras criadas a partir de sua exponibilidade).

Além disso, Walter Benjamin defende a ideia de que as formas de sensibilidade humana se alteram com essa transitoriedade e repetibilidade das coisas, com essa imagem de reprodução – com a destruição da aura talvez tenhamos perdido a essência de nosso ser.

Talvez tenhamos nos tornado robôs consumistas que simplesmente atendem às regras impostas pela indústria cultural. Talvez perder a aura signifique perder a alma. Talvez a reprodutibilidade técnica não aproxime o indivíduo da obra, como se costuma crê, ao passo que no meu conceito a obra é sua essência, assim como a alma é a nossa.

Impossível seria essa aproximação sendo que não há mais essência, sendo que ela fora destruída com o apelo das massas. Talvez a sociedade apenas acredite que está cada vez mais próxima das obras com a reprodutibilidade, quando na verdade está mais longe, perdendo o seu principal e não podendo assimilar nada devido à transitoriedade que ela espelha.

Walter Benjamin foi um dos maiores pensadores do século XX. Praticando a crítica da cultura moderna, ele atravessou assuntos como literatura, história, cinema, poesia, religião, política, linguagem, ética, arte… Mas jamais deixou a Filosofia como base de sua análise.

sábado, 2 de abril de 2011

Filosofia é o limite!


FILOSOFIA: decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada primeira proposição filosófica.

Se dermos crédito a Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3].

Cabe perguntar o que haveria de filosófico na proposição de Tales. Muitos ensaiaram uma resposta a esta questão. Hegel, por exemplo, afirma: "com ela a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é a nossa percepção sensível". Segundo Hegel, o filosófico aqui é o encontro do universal, a água, ou seja, um único como verdadeiro. Nietzsche, por sua vez, afirma:

"a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matiz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisália [sic], está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego".

O importante é a estrutura racional de tratamento das questões. Nietzsche analisa esse texto, não sem crítica, e remarca a violência tirânica como essa frase trata toda a empiria, mostrando que com essa frase se pode aprender como procedeu toda a filosofia, indo, sempre, para além da experiência.

A Filosofia representa, nessa perpectiva, a passagem do mito para o logos. No pensamento mítico, a natureza é possuída por forças anímicas. O homem, para dominar a natureza, apela a rituais apaziguadores. O homem, portanto, é uma vítima do processo, buscando dominar a natureza por um modo que não depende dele, já que esta é concebida como portadora de vontade. Por isso, essa passagem do mito à razão representa um passo emancipador, na medida em que libera o homem desse mundo mágico.

"De um sistema de explicações de tipo genético que faz homens e coisas nascerem biologicamente de deuses e forças divinas, como ocorre no mito, passa-se a buscar explicações nas próprias coisas, entre as quais passa a existir um laço de causalidade e constâncias de tipo geométrico [...] Na visão que os mitos fornecem da realidade [...] fenômenos naturais, astros, água, sol, terra, etc., são deuses cujos desígnios escapam aos homens; são, portanto, potências arbitrárias e até certo ponto inelutáveis".

A idéia de uma arqué, que tem sentido amplo em grego, indo desde princípio, origem, até destino, porta uma estrutura de pensamento que a diferencia do modo de pensar anterior, mítico. Com Nietzsche, pode-se concluir que o logos da metafísica ocidental visa desde o princípio à dominação do mundo e de si. Se atentarmos para a estrutura de pensamento presente no nascimento da Filosofia, podemos dizer que seu logos engendrou, muitos anos depois, o conhecimento científico. Assim, a estrutura presente na idéia de átomo é mesma que temos, na ciência atual, com idéia de partículas. Ou seja, a consideração de que há um elemento mínimo na origem de tudo. A tabela periódica também pode ser considerada uma sofisticação da idéia filosófica da combinatória dos quatro elementos: ar, terra, fogo, água, da qual tanto tratou a filosofia eleática.

Portanto, a Filosofia pode ser considerada como uma espécie de saber geral, omniabrangente. Um tal saber, hoje, haja vista os desenvolvimentos da ciência, é impossível de ser atingido pelo filósofo.

sábado, 26 de março de 2011

O sentido prático da Filosofia


O sentido prático da Filosofia

Filosofia. Ora, a filosofia procura estudar o sentido da vida, descobrir o significado das coisas, o "Por quê?", o "Como?" e o "Para que?".

Que dizer de uma área de estudo presente até mesmo em longas metragens? Matrix é uma boa representação. Resgata a mitologia grega, a etimologia e a filosofia. Isto pode ser percebido em várias cenas do filme. Uma delas quando Morfeu ( segundo a mitologia grega, era um espírito filho do sono e da noite. Que em absoluto silêncio, esvoaçava sobre um ser humano ou pousava sobre sua cabeça e tinha o poder de fazer adormecer e lhe aparecer em sonho ) leva Neo ( que quer dizer novo, ou aquele que renova ) para ouvir o Oráculo ( que é uma mensagem misteriosa enviada por uma divindade ou a própria divindade transmissora da mensagem ) e este lhe pergunta se havia lido a inscrição sobre a porta: "Conhece-te a ti mesmo" ( inscrição sobre um portal de um santuário dedicado ao deus Apolo, na cidade de Delfos - Grécia Antiga ).

Um dos nomes mais conhecidos do meio filosófico é Sócrates. Este, segundo a história, uma vez foi consultar o Oráculo do santuário de Apolo. E teve a seguinte resposta: " Sócrates é o mais sábio dos homens, pois é o único que sabe que não sabe."

Em comparação com o filme Sócrates assemelha-se a Neo. Ambos não se contentavam com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos da sociedade, com as crenças incontestáveis. O grande filósofo desconfiava das aparências e procurava a realidade verdadeira de todas as coisas. Com a pergunta "O que é" ( o que é verdade?, o que é mentira?, o que é democracia?, etc. ), ele levava os atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.

Como os de Neo, os combates socráticos não eram físicos, eram mentais, do pensamento. Toda a trajetória de Neo até o combate final na Matrix encontra-se também em "O mito da caverna" do filósofo Platão. Mito que, metaforicamente, relata a vivência humana que é forçada a acreditar naquilo que lhe é imposto, sem fazer qualquer tipo de questionamento ameaçador.

"O mito da caverna" nos instiga a, como Sócrates, perguntar "O que é?" e fugir do mundo de aparências em que vivemos. Um claro exemplo é que acreditamos na existência do tempo e que podemos medi-lo com instrumentos como o relógio e o cronômetro, sem questionarmos como, porque e para que.

Nota-se então que nossa vida cotidiana é feita de crenças silenciosas, da aceitação de coisas e idéias que nunca questionaremos por nos parecerem naturais. Cremos que somos seres racionais e, no entanto estamos acabando com o planeta. Cremos que somos capazes de conhecer as coisas e mesmo assim não respeitamos o meio-ambiente, deixando-nos levar pelo capitalismo. Acreditamos na existência da verdade e na diferença entre verdade e mentira.

Somos livres quando queremos ou apenas respeitamos as regras impostas pela sociedade? O que é a liberdade então?

Como é possível que haja duas realidades temporais diferentes, a marcada pelo relógio e a vivida por nós? Como é possível o tempo ser medido num relógio? O que é o tempo? Algo existente ou algo creditado pela nossa consciência?

- Será que percebemos as coisas como realmente são?

Enfim, diante de tantas indagações, tantas dúvidas, antes de tentar resolver os enigmas do mundo externo será mais proveitoso que comecemos compreendendo a nós mesmos.

sábado, 19 de março de 2011

A leitura e o princípio do prazer


A leitura e o princípio do prazer

Não há nada mais chato que ler um livro por obrigação. Espero que não seja este o seu caso. Aliás, tudo o que fazemos forçados é inconvenientemente doloroso. É preciso ter prazer naquilo que se faz.

Com a leitura não é diferente. Além do mais, o tempo dedicado a um livro é relativamente maior que a qualquer outro tipo de fruição intelectual. Aí vem sempre aquela velha desculpa: já não tenho tempo para ler livros. Mas o sujeito tem tempo para ir ao cinema, surfar na Internet, jogar conversa fora com os amigos e outros passatempos que lhe dão prazer.

Por isso, se você gosta de ler mas não tem tempo, ou então você, que está começando agora, e não consegue encontrar um livro que não seja chato, um conselho: experimente a leitura por duas, três, quatro páginas. Se não lhe der prazer, tesón, como dizem os hispanos, esqueça: esse livro não lhe merece. Ou vice-versa.

Porque um livro só é verdadeiramente um livro quando encontra um leitor. Livros que enfeitam estantes são tão inúteis quanto uma roda quadrada. O leitor deve interagir com o livro, deve vivê-lo plenamente, mas sem esquecer que o tempo de fruição é mais elástico que o de outras atividades.

Literatura não é cinema, que é consumido numa única sessão de, em média, duas horas. A leitura de um bom livro exige muitas horas e vários dias de dedicação. E se o prazer se mantém, se multiplica, quem ganha é o leitor.

Uma das mais interessantes teorias sobre a interpretação da obra literária é a estética da recepção, que procura analisar a obra literária em função dos inúmeros tipos de leitor que ela pode ter. Aliás, a verdadeira obra de arte traz consigo inúmeras possibilidades de interpretação.

Ao contrário da pose passiva que se esperaria de um leitor em contato com o livro − o livro como um repositório de informações, o leitor como destinatário −, cada leitor se posicionará em relação ao livro de maneira ativa, interagindo com ele de acordo com o seu nível de conhecimento − escolaridade, meio social, religião, profissão, enfim, o seu ambiente.

Se dois leitores de dois ambientes diferentes lerem o mesmo livro, sem dúvida nenhuma produzirão pelo menos duas leituras diferentes.

A Bíblia, por exemplo, que é uma verdadeira floresta de símbolos, terá variadas interpretações se lida sob a luz das várias teologias, e outras tantas ainda quando lida pelo homem comum ou por um intelectual anarquista.

Livro magnífico que é, a leitura da Bíblia não se esgotará jamais, e as divergências ajudarão a iluminá-la com a serena vela da dúvida e a torturante chama da paixão.

Porque essa é a essência da relação leitor/livro: se cada ser humano é único na imensidão do universo, cada livro será, para cada leitor, uma experiência singular, intransferível.

sábado, 12 de março de 2011

História das ideias

História das ideias

Com este artigo antes já publicado por aqui em anos anteriores, trago neste post a fascinante e envolvente história das ideias e suas filosofias.

A partir da filosofia grega, nasceu a reflexão crítica e a necessidade de explicações racionais para o mundo. Ao contrário do pensamento oriental, que nunca rompeu definitivamente com a prática religiosa, a filosofia ocidental parte rumo a aventura única: entender o mundo dos homens de uma perspectiva antropocêntrica.

Nessa estante de conhecimento, alinhamos obras, autores e escolas filosóficas em uma mostra do que o homem pensou, criou e transformou a partir de suas idéias. Obras e autores se sucedem. Um novo livro é sempre resultado do antigo, serve de base para crítica ou para o próximo.


Fonte e endereço desta matéria:
http://www.superinteressante.com.br/superarquivo/2002/conteudo_266256.shtml
Acesso em 10/03/2011.

sábado, 5 de março de 2011

A memória humana e a escrita


A memória humana e a escrita

O ser humano desenvolveu a capacidade de transmitir conhecimento a seus semelhantes. Talvez tenha sido essa capacidade que permitiu sua sobrevivência como espécie e, certamente, foi ela que lhe deu a supremacia na escala evolutiva.

Nos primórdios da civilização bastou que esse conhecimento fosse transmitido por uma linguagem que misturava sons e gestos. Como isso era transmitido de geração em geração e como quem conta um conto aumenta um ponto, criaram-se histórias fantásticas. Surgiram as lendas das quais até hoje temos notícia.

Durante a era do gelo a humanidade sobreviveu graças à caça de grandes animais, mas ela terminou. O ambiente mudou radicalmente e o ser humano foi obrigado a encontrar outras fontes de alimentação. Daí surgiu a agricultura e, com ela, a sedentarização, a organização social em cidades e o acúmulo de riquezas.
A humanidade percebeu que não havia mais como confiar somente na memória e, por volta do ano 3.100 a.C., surgiu a escrita. No princípio, era um simples rol de riquezas estocadas em armazéns, mas logo o homem começou a usá-la com finalidade religiosa, cultural e comercial.

Com o grande salto cultural dado pelos gregos no período clássico, a escrita tornou-se o principal instrumento na transmissão do saber e, paralelamente, um instrumento de poder político.

No entanto, a escrita não foi aceita por todos. Platão, através de Sócrates em seu diálogo com Fedro, nos traz ao conhecimento uma lenda egípcia. Thot, deus a quem era consagrada a ave íbis, inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, o jogo de damas e os dados, e a escrita. Durante o reinado de Tamuz, o deus ofereceu-lhe suas invenções, dizendo-lhe para ensiná-las a todos os egípcios. Mas Tamuz quis saber de suas utilidades e, enquanto o deus explicava, o faraó censurava ou elogiava, conforme essas artes lhe parecessem boas ou más. Quando chegaram à escrita Thot disse que aquela arte tornaria os egípcios mais sábios e lhes fortaleceria a memória. No entanto, Tamuz respondeu-lhe que a escrita tornaria os homens esquecidos, pois deixariam de cultivar a memória. Ao confiar apenas nos livros, só se lembrariam de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Os homens tornar-se-iam sábios imaginários.

Nesse mesmo diálogo, Sócrates considera a escrita como algo que limita o pensamento, que engessa as idéias. Um discurso escrito, dizia ele, será sempre o mesmo, repetido inúmeras vezes sem que se possa agregar novas idéias.

Ironicamente, se hoje sabemos muito da filosofia de Sócrates é porque Platão a escreveu.

Analisando a questão frente a nossos conhecimentos sobre a memória humana, podemos, no entanto, afirmar que escrever é uma forma salutar de ampliar nosso banco de dados. Salutar porque é preciso esquecer para poder lembrar. Explicando, nossa memória não pode guardar absolutamente todas as informações que lhe chegam, sob risco de bloqueio. É armazenando somente o que interessa e associando convenientemente os dados estocados que a memória pode ser evocada.

De qualquer forma, a escrita está aí, imutável ao longo do tempo (a não ser, claro, em algumas dessas péssimas traduções com que por vezes nos deparamos), pronta para ser consultada quando precisamos e, sobretudo, liberando o cérebro humano para a associação dos conhecimentos armazenados e a criação de novas idéias.

A título de ilustração, sabe-se que com treinamento intenso e adequado, uma pessoa pode reter uma seqüência de 50, 100 algarismos. No entanto, com papel e lápis qualquer um terá a mesma seqüência guardada, com um mínimo de esforço.

Finalizando, não podemos nos esquecer do que dizia Confúcio......Bem, ele dizia......O que mesmo ele dizia?........Acho que me esqueci, teria sido melhor escrever.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Diferenças entre memória e lembrança


Lembrança e memória: suas semelhanças e diferenças.
O que vem a ser a memória?
A memória é uma das funções cognitivas mais complexas que a natureza produziu, e as evidências científicas sugerem que o aprendizado de novas informações e os seus respectivos processos de armazenamento causam alterações estruturais no sistema nervoso.

A memória é a capacidade de reter, recuperar, armazenar e evocar informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória humana), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial).
A memória humana focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas idéias, ajudando a tomar decisões diárias. Memória, segundo diversos estudiosos, é à base do conhecimento. Como tal, deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.
A memória tem a função de promover a adaptação do ser ao meio, contribuindo para a sua sobrevivência. No caso dos humanos, "a complexidade é maior pela participação da linguagem, e pela modulação por sentimentos, emoções e estados de ânimo".

O que vem a ser a lembrança?
A lembrança vem a ser uma evocação do passado, é a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi, salvando -o da perda total...todos nós conhecemos os belos versos do poeta : "Eu me lembro,eu me lembro!era pequeno e o mar bramia.
''Então...A memória possibilita que guardemos o tempo que se foi, mas também permite que projetemos o futuro, já que sem ela não poderíamos ter consciência do tempo, muito menos da nossa identidade.

É representada pelo ''Eu''O ''Eu" é mais do que a lembrança, ele é a consciência superficial e profunda do que somos, pois, quando nos pensamos, reunimos lembranças do passado e projeções para o futuro, de forma que somos sempre o que passou e o que ainda virá.

A memória é a garantia de nossa própria identidade e podemos dizer "Eu" reunindo tudo o que fomos e fazemos...é lá que guardamos, repousa tudo o que a ela foi entregue, que o esquecimento ainda não absorveu, nem sepultou...é lá que estão também todos os conhecimentos.

O grande poder da memória assusta, como já dizia Santo Agostinho. Temos medo de esquecer o que de mal vivemos, mas igualmente temos medo de não lembrar a felicidade vivida.

Somos essa misteriosa mistura de passado, presente e futuro.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Preservação da Memória


O sentido da preservação da memória

Muito se diz pela preservação da memória de alguém que passou pela vida deixando sua marca para não ser esquecida. Mas, as perguntas que faço são: o que é a preservação da memória? Quais as ações que devem ser adotadas em prol da preservação da memória? O que se espera pela preservação da memória?

O primeiro passo foi tentar entender o que é memória e, segundo ‘Caldas Aulete’, memória é a ‘faculdade de conservar a lembrança do passado ou da coisa ausente’. Curiosa, o próximo passo foi me dirigir ao conceito de lembrança e no mesmo ‘Caldas Aulete’ verifico que a lembrança pode ser entendida como o ‘pensamento que se conserva por certo tempo na memória’.

Talvez uma conclusão lógica seja a de que a preservação da memória significa manter algo conservado e guardado de modo a não se perder no tempo.Mas, pensando na trajetória de um artista, tenho que as pessoas que se dedicam à arte desejam expressar seus sentimentos, ideias, conceitos, pensamentos e momentos de modo a deixarem suas marcas eternizadas. O artista, por meio de sua obra, se mantém vivo por um tempo indeterminado. Assim, a preservação da memória de um artista que já não mais está presente é o meio de mantê-lo presente.

Para manter o artista presente, a preservação da memória deve ser “ativa”, ou seja, a obra do artista deve ser acessível para fazer com que o artista continue sua trajetória, pois se a preservação for no sentido de conservação do acervo com inúmeras restrições de acesso ao público, o artista acabará sendo lembrado por poucos e aos poucos sua memória se tornará uma espécie de “arquivo morto” aonde alguns irão se dirigir para eventuais pesquisas históricas e a memória será mais uma lembrança do pensamento que uma ‘preservação da memória do artista’.

Entendo a preservação da memória como a preservação da vida e da obra do artista assim como ele mesmo o fazia. Entendo que a melhor forma de preservar a memória é fazer com que a obra do artista continue “ativa”, “viva”, “acesa” e “acessível” com todos os cuidados inerentes à peculiar situação de obras que se tornam únicas com a ausência do artista.

Neste sentido, as ações dirigidas aos acervos de artistas ausentes são tão importantes quanto as ações pensadas para os artistas em pleno desenvolvimento criativo e neste caminho a ‘faculdade de conservar a lembrança do passado’ transcende a simples preservação da memória para alcançar a preservação do artista e da sua obra dando-lhes o devido valor.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Memória, onde està?


Memória, onde está?

A memória está nos nossos corpos, nas lembranças que carregamos conosco e também está nos objetos, nas fotos, nos registros escritos. As memórias dos grupos se referenciam, também, nos espaços em que habitam e nas relações que constroem com esses espaços.

Ao longo dos séculos, a humanidade vem reunindo em coleções de objetos e registros e criando espaços específicos para armazenar os traços e vestígios do passado, a memória social, testemunhos da experiência e da vivência dos grupos.

Em espaços privados, ao lado dos templos, ou em monumentos e arcos, bibliotecas e arquivos, os vestígios do passado chegam ao presente. A partir do século XVIII, estas instituições se organizam e muitas se tornam públicas, dando origem a diferentes instituições de memória como os museus (a casa das musas), pinacotecas, arquivos públicos, bibliotecas que hoje conhecemos e freqüentamos, com objetivos educativos, culturais, de lazer e entretenimento.

O século XX viu a multiplicação destas instituições de memória. Museus de História, de Ciências, museus da Guerra, museus da Imigração. Cidades abandonadas pelo declínio econômico de certas atividades (metalurgia, por exemplo) são convertidas, inteiras, em museus. Cada vez mais cenográficas, muitas dessas instituições não resumem seus objetivos a trazer dados do passado, mas pretendem recriar o passado, reviver a memória, as antigas tradições, reconstruir identidades. A transmissão fria de informações dá lugar à sensibilização dos visitantes.

Esta multiplicação de espaços e atividades destinadas a preservar a memória ocorre justamente num tempo em que vivemos, como nunca, a sensação de enorme velocidade e de perda iminente das memórias e referências do nosso passado.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Memória é história?


Memória é História?
Memória é o mesmo que História? Seria a História uma porção de memórias reunidas? Essa questão vem sendo também objeto de muitos estudos.

É certo que memória e História têm como foco o passado, porém este passado é a matéria-prima comum para processos que, para muitos autores, não se confundem. Isso porque a memória é um processo vivo, vivido física e afetivamente pelos grupos, e permanece na medida em que se renova, é transmitida e compartilhada.

Não há memória sem as pessoas que a mantêm como sentimento e como prática. Ela não é fixa, as memórias se rearranjam, se organizam e se articulam a novas experiências; a é sempre presente.

Já a História diz respeito a um tempo passado mais amplo, que se cristaliza no registro escrito e que se distancia dos que a viveram. A História é uma reconstituição, uma representação do passado, produzida a partir do distanciamento, da análise intelectual do discurso crítico.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Memória coletiva


Eu lembro, nós lembramos...

Dentre os vários estudos sobre a memória, os de Maurice Halbwachs contribuíram muito para a compreensão da memória e suas relações com o contexto social. Para ele, o lembrar se dá sempre no social. Mesmo a memória aparentemente mais particular, a nossa experiência vivida, está ligada à memória de um grupo. Cada um de nós carrega as suas lembranças, mas não estamos sós neste lembrar; ao contrário, estamos o tempo todo interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições.

A nossa memória está impregnada das memórias dos que nos cercam. Não é preciso que eles estejam presentes, a nossa memória e as maneiras como percebemos o mundo se constituem a partir desse emaranhado de experiências, tão diversas quanto os diferentes grupos com que nos relacionamos.

Sentimos como se a nossa memória fosse só nossa, uma unidade, embora nossas lembranças se alimentem das diversas memórias oferecidas pelo grupo, a que o autor denomina “comunidade afetiva”. Dificilmente nos lembramos fora deste quadro de referências. Tanto nos processos de produção da memória como na rememoração, o outro tem papel fundamental.

Esta memória coletiva tem a importante função de contribuir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum, que compartilha memórias. Sentimo-nos parte do grupo quando compartilhamos de suas lembranças. A identidade se constitui nesta memória compartilhada.

Poderíamos imaginar que, por se alimentar do passado, a memória seja estática. Porém, ela se modifica ao longo do tempo e se rearticula conforme a situação, as relações que se estabelecem.

A memória é história viva e vivida, e permanece no tempo renovando-se. Para lembrar e para esquecer também estão em jogo elementos inconscientes como o afeto, a censura, entre outros. A memória não é uma simples gravação. Relaciona-se às emoções, às outras experiências vividas, aos valores e experiências dos grupos. Lembrar também se relaciona com o coletivo. Dificilmente lembranças emergem fora das relações com os grupos e o interesse pela experiência do outro.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Memória e Sociedade


“A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, interfere no processo atual das representações. Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência; A memória aparece como força subjetiva ao mesmo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora.”

Segundo esse argumento, a cada nova história a qual somos apresentados vivemos a sensação do desconhecido. Só podemos dizer que algo é “novo” por sabermos que não pertence a nenhum material retido na memória do sujeito em forma de lembrança. Além disso, nós temos materiais de lembrança latentes. São objetos ou fatos que só são lembrados de forma consciente quando induzidos por fatores externos ou por um esforço interno. “Na realidade não há percepção que não esteja impregnada de lembranças” (BERGSON 1959 apud BOSI, pp.45)

A memória serve de modelo para que um determinado comportamento seja avaliado como certo ou errado, permitindo que pela repetição de um ato, seja possível ficar cada vez melhor e mais treinado. Quanto mais se treina um comportamento, por exemplo, nas atividades esportivas, mais as habilidades individuais vão se aperfeiçoando.

A idéia do treino é exercitar a memória do ato para que chegue a cada treino mais perto da perfeição ou de um ideal pré-desejado. Para Bergson, existiriam duas memórias:

Memória-hábito – esforço da atenção e repetição – (Ex: treino esportivo; ato de escovar os dentes, costumes a mesa). Lembranças isoladas, singulares, que constituiriam autênticas ressurreição do passado: momento único, singular, não repetido da vida. – (Nascimento de um filho; casamento) a memória-hábito se relaciona a todo tipo de ação cotidiana e adquirida pela repetição que fazemos quase sem perceber. São ações automáticas que aprendemos ao longo dos anos, em ações executadas quase sem pensar. Um exemplo é o ato de aprender a dirigir. No início, quando tudo é novidade, e ainda não temos esse saber adquirido, prestamos atenção a dados, que com o tempo e com o treino irão ser tornar um ato automático que depois executamos sem perceber.

Já a lembrança isolada ou singular é aquele marco social que fica como importante para o resto na vida do sujeito e do qual ele irá se referir no futuro como um acontecimento do passado. O cuidado maior de Bergson é o de entender as relações entre a conservação do passado e a sua articulação com o presente e a interseção vital existente entre o fenômeno da memória e o da percepção.
Sem as lembranças o passado não sobreviveria as gerações futuras e o conhecimento se resumiria ao ato presente. A lembrança é a sobrevivência do passado. No texto de Berson, no entanto, não há uma problematização sobre o sujeito que lembra e muito menos da relação dos sujeitos com as coisas lembradas.

Fonte:
Memória e Sociedade: lembranças de velhos
Livro de
Ecléa Bosi – São Paulo, Companhia das Letras, 2002
Livro pesquisa sobre memória cognitiva e social, que através do relato de vida pessoal contam aspectos da vida da cidade de São Paulo, incluindo fotos. Belissimo livro e trabalho, com bom arcabouço teórico. Usa como fundamentos teóricos entre muitos o embasamento de Henri Bergson e Halwbachs.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Memória e mídia


No post de hoje, continuo comentando assuntos sobre caminhos anteriores. Desta vez, relaciono memória e mídia no contexto cotidiano.
Memória: Do latim "memoria", faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente. Retemos aquilo que de alguma forma nos impressiona, nos comove ou nos agride. Ou podemos jogar a mesma matéria na "caixa preta" do nosso ser, que imperceptivelmente registra os fatos mas só os aciona se de alguma forma for ativada por uma força externa. Segundo Freud, "memória e esquecimento estão indissolúvel e mutuamente ligados; e o esquecimento é uma forma de memória escondida".

Consideremos sobre a forma na qual nos apoiamos para reter ou lembrar as impressões que vamos colhendo pelo caminho. Não é suficiente colher e guardar os fatos que vemos nos nossos cotidianos, no nosso país, na nossa história cronologicamente determinada.

É a memória vivida, reconstruída através dos nossos sentidos e dos sentidos dos que contemporaneamente nos cercam que constrói a nossa teia de conhecimento. A memória permite a relação do presente com o passado. Quanto mais pessoal, menos socializada for a memória, mais distante e de difícil acesso será a sua atualização pela consciência.

E o instrumento mais socializador da memória é a linguagem. Através da linguagem, nos identificamos dentro da sociedade em que vivemos. Usando símbolos e meios pelos quais estes símbolos são transmitidos relacionamo-nos com o outro e nos transformamos, modificando consequentemente a sociedade em que vivemos.

Maurice Halbwachs, em "Memória Coletiva", nos coloca isto de forma bem clara: "Percebemos cada meio à luz do outro. As lembranças mais difíceis de evocar são aquelas que não pertencem senão à nós". E sucessivamente, assim como em uma rede de transmissão de dados e conhecimentos, acontecimentos e depoimentos vão tomando uma forma e ocupando um lugar na nossa memória pessoal e na memória da nação.

Em um país tão grande como o nosso, o modo como se organiza nossa percepção de espaço e tempo é influenciado diretamente pela Mídia. Isto para não falarmos em globalização e mídia globalizada. Concentremo-nos em nós desta vez. Na nossa mídia nacional. Juntas, a vida vivida e a vida através da "telinha" vão recortando nossa sociedade e gerando novas gírias, costumes, valores. Um gesto circular vira sinônimo de cerveja. Ou pode ser a "Número 1". Transitamos entre o delineador de "Jade", o cabelo de Fátima Bernardes, o estilo de Marília Gabriela. Desejamos ser como Vera, sempre bela.

Quem se lembra das "Casas Pernambucanas" com o "Não adianta bater, eu não deixo você entrar?? Ou dos Porquinhos da casa da Banha dançando o "Tchá-tchá-tchá"?? Foram-se as empresas, morreram as marcas mas ficaram as lembranças na geração que viveu esta época. Leila Diniz e Elis... Quantas lembranças, quantas memórias podemos associar a elas ?

2002. Vivemos durante 62 dias a vida privada de doze pessoas através do Big Brother Brasil. A nação se comoveu, riu, reclamou, chorou, votou. Tornou os participantes íntimos de suas casas, de suas discussões no trabalho. Records de audiência foram batidos na final. Isentemo-nos das críticas por alguns momentos. Quase todos queriam saber quem seria o (a) escolhido (a) do nosso Brasil. É fato. E enquanto comentávamos ou criticávamos, fomos tecendo nossa memória. Alguns continuarão na mídia, que opera milagres diariamente. Outros cairão na parte da memória esquecida. "Faz parte". Como também faz parte da cultura do nosso país aprender através Mídia, transformar-se através dela. A mídia, hoje livre, denuncia e derruba ministros, candidatos, presidente.

Digamos que em nosso país a Mídia não mais se limita a ser apenas um meio que transmite a vida gravada ou "ao vivo e a cores'. Ela vai muito além. "Sabemos que a mídia não transporta a memória pública inocentemente; ela a condiciona na sua própria estrutura e forma", diz Andreas Huyssen em "Seduzidos pela Memória".

Portanto Mídia, seja ela qual for, nos faça comprar, desejar, rir, chorar, comentar, distrair, mas principalmente, também nos ajude a pensar. Pensar novos caminhos sociais mais equilibrados e mais justos. Seduza-nos com shampoos suaves e ofertas imperdíveis, mas mostre-nos também como podemos juntos ir transformando nossa sociedade em lugar melhor de se viver, não para tão poucos, mas para muitos mais. Ajude-nos a tecer passado e presente neste Brasil de transformações constantes, que mesmo tão grandes, estão longe de refletir o nosso tamanho.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Memória, narrativa e as história do mundo


...dando continuidade...Memória, narrativa e as histórias do mundo

No desvendamento de diferentes modalidades das sociedades humanas configurarem o controle simbólico do tempo, as ciências humanas trataram, mais recentemente, de desconstruir o tempo por intermédio de sua dimensão interpretativa.

Seja como espaço de construção de uma inteligência narrativa que encerra a experiência de duração, reino da imaginação criadora; seja como fenômeno que participa das estruturas antropológicas do imaginário e de sua topologia fantástica, nos arranjos que esta engendra entre vida e matéria.

Uma vez que se reconheça os limites da separação ontológica entre ambas as instâncias, além do paroxismo que encerram tais atos humanos de rememoração, não se trata mais, na linha de argumentação aqui apontada, de refletir sobre a memória apenas, e tão somente, sob os efeitos de imagens-vestígios.

É a força interpretativa reconhecida à memória como espaço de construção de conhecimento que desponta como fenômeno a ser aqui aprofundado, tratando-se aí de reconhecer e compreender as tradições históricas, sociais e culturais que carregam e marcam de suas configurações.

Nestes termos, os jogos da memória explicitariam uma ação inteligente singular do sujeito humano sobre o mundo nas busca de um princípio de causalidade (formal e material) que possa enquadrar, de forma inseparável, vida e matéria.

A memória compreendida como um topos espaço fantástico, lugar de extraversão e introversão de uma linguagem arbitrária de símbolos, e coordenada, no plano da imaginação criadora, por esquemas de pensamento, evocaria, portanto, os diferentes procedimentos interpretativos- narrativos

Fonte: Revista Iluminuras - Publicação Eletrônica do Banco de Imagens e Efeitos Visuais - NUPECS/LAS/PPGAS/IFCH e ILEA/UFRGS

sábado, 1 de janeiro de 2011

Distinção e relação entre memória e tradição


No post de hoje, decidi continuar a comentar assuntos sobre caminhos anteriores. Desta vez, discuto a distinção e relação entre memória e tradição

Pode parecer óbvio estabelecer a relação entre memória e tradição, na medida em que ambas funcionam no movimento de manutenção de um "espírito" passado.

Todavia, existem detalhes no funcionamento delas que podem acabar confundindo, desviando ou, mesmo, impedindo uma clareza na sua relação. Por exemplo, em que medida, afinal, a memória mantém e sustenta a tradição, e em que medida ela forja, constrói uma tradição? Mas, então, a tradição continua sendo tradição nessas condições? O que determina e legitima uma certa tradição?

A tradição oral talvez seja o melhor espaço para se pensar essa relação. Aí, a tradição se estabelece pela ação direta da memória; esta se configura como um fio que se enreda como uma malha de referências, que é a tradição.

O poeta da oralidade é a personificação da memória de uma comunidade, sua encarnação; no seu corpo e na sua voz se materializam marcas da memória e emblemas da tradição. A tradição oral se somatiza no poeta ao ponto de a sua figura privada carecer de identidade em prol de sua figura pública.

É na performance que a transmissão da memória ocorre. Ela é capturada pelos ouvidos e pelos olhos, sensitivamente, no corpo a corpo que tensiona o espaço entre. Memória coletiva e coletivizada. Na performance, não há memória individual, não há individualidade, o sujeito se dissolve na ritualização com o poeta e com o contador, entrelaçando seu imaginário pessoal com o imaginário da comunidade.

Assim como também faz o poeta. Ele, na sua re-criação da memória coletiva, estabelece vínculos desta com o ambiente, o espaço no qual o lúdico da transmissão se instala. Sua memória é a memória coletiva, das várias coletividades por onde passou.

Desterritorializado, o poeta oral também se caracteriza como nômade das diversas falas que flagra e forja. Ele é somente o corpo, o meio, a máquina que re-produz falas de outrora e de alhures. O poeta oral viaja re-colhendo saberes oralizados em canções, poemas e contos e os re-passa adiante, navegante de sons, ritmos, palavras e idéias.

sábado, 25 de dezembro de 2010

A Memória como base do conhecimento


A memória como base do conhecimento

“Um povo sem memória e sem tradição é um povo sem alma e sem passado. Não vivemos do passado, mas o cultuamos para trazer vivo na memória dos nossos descendentes aquilo que nossos ancestrais construíram”.

A memória é a capacidade de adquirir (aquisição),
armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial).

A memória focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas idéias, ajudando a tomar decisões diárias.

Os neurocientistas (psiquiatras, psicólogos e neurologistas) distinguem memória declarativa de memória não-declarativa. A memória declarativa, grosso modo, armazena o saber que algo se deu, e a memória não-declarativa o como isto se deu.

A memória declarativa, como o nome sugere, é aquela que pode ser declarada (fatos, nomes, acontecimentos, etc.) e é mais facilmente adquirida, mas também mais rapidamente esquecida. Para abranger os outros animais (que não falam e logo não declaram, mas obviamente lembram), essa memória também é chamada explícita. Memórias explicitas chegam ao nível consciente. Esse sistema de memória está associado com estruturas no lobo temporal medial (ex: hipocampo, amígdala).

Psicólogos distinguem dois tipos de memória declarativa, a memória episódica e a memória semântica. São instâncias da memória episódica as lembranças de acontecimentos específicos. São instâncias da memória semântica as lembranças de aspectos gerais.

Já a memória não-declarativa, também chamada de implícita ou procedural, inclui procedimentos motores (como andar de bicicleta, desenhar com precisão ou quando nos distraímos e vamos no "piloto automático" quando dirigimos). Essa memória depende dos gânglios basais (incluindo o corpo estriado) e não atinge o nível de consciência. Ela em geral requer mais tempo para ser adquirida, mas é bastante duradoura.

Memória, segundo diversos estudiosos, é a base do conhecimento. Como tal, deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Características multidisciplinares da narrativa

"a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade. (...) é fruto do gênio do narrador ou possui em comum com outras narrativas uma estrutura acessível à análise".

Narrativa existe desde o tempo em que as primeiras pinturas da idade das pedras foram feitas em cavernas e as primeiras histórias foram contadas ao redor do fogo. Na vida cotidiana uma pessoa é cercada por narrativas desde o momento em que torna-se capaz de compreender a fala. Uma pessoa pode aprender sobre o passado, eventos atuais e futuro a partir de contos, piadas, novelas, filmes, desenhos, jornais, telejornais, obituários de outras pessoas e entre outros. Seja a narrativa simples ou complexa, os indivíduos precisam ser capazes de entender suas funções para compreender o mundo circundante.

Narrativas, do latim narre ‘dar a conhecer, transmitir informações’, fornecem aos indivíduos uma ferramenta para aprender e ensinar uns aos outros sobre o mundo. A tradição oral de contar histórias que se transformou em nossos modos contemporâneos de narrativa tem sido reconhecida como a base da transferência de conhecimento no seio das sociedades (Campbell, 1949). Narrativas também são usadas por pesquisadores como uma metalinguagem que os permite descrever seus estudos e aproximar-se do objeto de estudo como um discurso narrativo.

O conceito da narrativa pode ser encontrado em inúmeros trabalhos produzidos por investigadores na área das humanidades e ciências sociais, seja ela o foco principal do trabalho ou apenas um dos elemento estudados. Como a narrativa é estudada a partir de uma variedade de perspectivas, suas abordagens podem variar significativamente. Ela pode ser abordada como um método para produzir, como uma teoria para investigar, como uma prática social, política ou estratégica.

Na maioria dos casos, no entanto, existem duas teorias principais através das quais as narrativas são analisadas: as teorias funcionalistas (focada na função da narrativa); e as teorias estruturalistas (focada na forma como a narrativa é produzida) (Threadgold, 2005, 262-267).

Paul Ricoeur e Peter Brooks apresentam uma abordagem existencial a narrativa como um fenômeno que dá significado a vida das pessoas. A abordagem cognitiva apresentada por Mark Turner e Jerome Bruner lida com a narrativa como instrumentos elementar do pensamento humano, de cognição. Os esteticistas (aestheticians), como Philip Sturgess, cuja obra Narrativity : Theory and Practice publicada em 1992 pode ser utilizada como principal exemplo, integra narratividade, ficcionalidade, e literariedade como aspectos indissociáveis.
Sociólogos focam-se no contexto no qual a narrativa é criada. Abordagens técnicas preferem análises narrativas baseadas na linguagem e incluem narratologias estruturalistas e análises lingüistas e do discurso (por exemplo em trabalho por Barbara Herrnstein Smith, ou Dan Ben-Amos). A narrativa é ainda caracterizada como um conceito, categoria analítica, tipo de discurso, tipo de texto, e macro-gênero (Ryan, 2004, p. 2-8). Com tantas variedades de contextos e abordagens a narratologia expande-se em um campo muito complexo.

Devido o significativo aumento de interesse sob os variados aspectos da narrativa, a narrativa deixou de ser um domínio exclusivo dos estudos literários, de forma que sua teorização carrega, desde seu início, características multidisciplinares. Dessa maneira, a teoria da narrativa ou narratologia é mais do que nunca aberta a diversas metodologias de diferentes áreas: filosofia, história, sociologia, psicologia, religião, etnografia, lingüística, comunicação e estudos de mídia.