sábado, 15 de janeiro de 2011

Memória e mídia


No post de hoje, continuo comentando assuntos sobre caminhos anteriores. Desta vez, relaciono memória e mídia no contexto cotidiano.
Memória: Do latim "memoria", faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente. Retemos aquilo que de alguma forma nos impressiona, nos comove ou nos agride. Ou podemos jogar a mesma matéria na "caixa preta" do nosso ser, que imperceptivelmente registra os fatos mas só os aciona se de alguma forma for ativada por uma força externa. Segundo Freud, "memória e esquecimento estão indissolúvel e mutuamente ligados; e o esquecimento é uma forma de memória escondida".

Consideremos sobre a forma na qual nos apoiamos para reter ou lembrar as impressões que vamos colhendo pelo caminho. Não é suficiente colher e guardar os fatos que vemos nos nossos cotidianos, no nosso país, na nossa história cronologicamente determinada.

É a memória vivida, reconstruída através dos nossos sentidos e dos sentidos dos que contemporaneamente nos cercam que constrói a nossa teia de conhecimento. A memória permite a relação do presente com o passado. Quanto mais pessoal, menos socializada for a memória, mais distante e de difícil acesso será a sua atualização pela consciência.

E o instrumento mais socializador da memória é a linguagem. Através da linguagem, nos identificamos dentro da sociedade em que vivemos. Usando símbolos e meios pelos quais estes símbolos são transmitidos relacionamo-nos com o outro e nos transformamos, modificando consequentemente a sociedade em que vivemos.

Maurice Halbwachs, em "Memória Coletiva", nos coloca isto de forma bem clara: "Percebemos cada meio à luz do outro. As lembranças mais difíceis de evocar são aquelas que não pertencem senão à nós". E sucessivamente, assim como em uma rede de transmissão de dados e conhecimentos, acontecimentos e depoimentos vão tomando uma forma e ocupando um lugar na nossa memória pessoal e na memória da nação.

Em um país tão grande como o nosso, o modo como se organiza nossa percepção de espaço e tempo é influenciado diretamente pela Mídia. Isto para não falarmos em globalização e mídia globalizada. Concentremo-nos em nós desta vez. Na nossa mídia nacional. Juntas, a vida vivida e a vida através da "telinha" vão recortando nossa sociedade e gerando novas gírias, costumes, valores. Um gesto circular vira sinônimo de cerveja. Ou pode ser a "Número 1". Transitamos entre o delineador de "Jade", o cabelo de Fátima Bernardes, o estilo de Marília Gabriela. Desejamos ser como Vera, sempre bela.

Quem se lembra das "Casas Pernambucanas" com o "Não adianta bater, eu não deixo você entrar?? Ou dos Porquinhos da casa da Banha dançando o "Tchá-tchá-tchá"?? Foram-se as empresas, morreram as marcas mas ficaram as lembranças na geração que viveu esta época. Leila Diniz e Elis... Quantas lembranças, quantas memórias podemos associar a elas ?

2002. Vivemos durante 62 dias a vida privada de doze pessoas através do Big Brother Brasil. A nação se comoveu, riu, reclamou, chorou, votou. Tornou os participantes íntimos de suas casas, de suas discussões no trabalho. Records de audiência foram batidos na final. Isentemo-nos das críticas por alguns momentos. Quase todos queriam saber quem seria o (a) escolhido (a) do nosso Brasil. É fato. E enquanto comentávamos ou criticávamos, fomos tecendo nossa memória. Alguns continuarão na mídia, que opera milagres diariamente. Outros cairão na parte da memória esquecida. "Faz parte". Como também faz parte da cultura do nosso país aprender através Mídia, transformar-se através dela. A mídia, hoje livre, denuncia e derruba ministros, candidatos, presidente.

Digamos que em nosso país a Mídia não mais se limita a ser apenas um meio que transmite a vida gravada ou "ao vivo e a cores'. Ela vai muito além. "Sabemos que a mídia não transporta a memória pública inocentemente; ela a condiciona na sua própria estrutura e forma", diz Andreas Huyssen em "Seduzidos pela Memória".

Portanto Mídia, seja ela qual for, nos faça comprar, desejar, rir, chorar, comentar, distrair, mas principalmente, também nos ajude a pensar. Pensar novos caminhos sociais mais equilibrados e mais justos. Seduza-nos com shampoos suaves e ofertas imperdíveis, mas mostre-nos também como podemos juntos ir transformando nossa sociedade em lugar melhor de se viver, não para tão poucos, mas para muitos mais. Ajude-nos a tecer passado e presente neste Brasil de transformações constantes, que mesmo tão grandes, estão longe de refletir o nosso tamanho.

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