sábado, 22 de janeiro de 2011

Memória e Sociedade


“A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, interfere no processo atual das representações. Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência; A memória aparece como força subjetiva ao mesmo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora.”

Segundo esse argumento, a cada nova história a qual somos apresentados vivemos a sensação do desconhecido. Só podemos dizer que algo é “novo” por sabermos que não pertence a nenhum material retido na memória do sujeito em forma de lembrança. Além disso, nós temos materiais de lembrança latentes. São objetos ou fatos que só são lembrados de forma consciente quando induzidos por fatores externos ou por um esforço interno. “Na realidade não há percepção que não esteja impregnada de lembranças” (BERGSON 1959 apud BOSI, pp.45)

A memória serve de modelo para que um determinado comportamento seja avaliado como certo ou errado, permitindo que pela repetição de um ato, seja possível ficar cada vez melhor e mais treinado. Quanto mais se treina um comportamento, por exemplo, nas atividades esportivas, mais as habilidades individuais vão se aperfeiçoando.

A idéia do treino é exercitar a memória do ato para que chegue a cada treino mais perto da perfeição ou de um ideal pré-desejado. Para Bergson, existiriam duas memórias:

Memória-hábito – esforço da atenção e repetição – (Ex: treino esportivo; ato de escovar os dentes, costumes a mesa). Lembranças isoladas, singulares, que constituiriam autênticas ressurreição do passado: momento único, singular, não repetido da vida. – (Nascimento de um filho; casamento) a memória-hábito se relaciona a todo tipo de ação cotidiana e adquirida pela repetição que fazemos quase sem perceber. São ações automáticas que aprendemos ao longo dos anos, em ações executadas quase sem pensar. Um exemplo é o ato de aprender a dirigir. No início, quando tudo é novidade, e ainda não temos esse saber adquirido, prestamos atenção a dados, que com o tempo e com o treino irão ser tornar um ato automático que depois executamos sem perceber.

Já a lembrança isolada ou singular é aquele marco social que fica como importante para o resto na vida do sujeito e do qual ele irá se referir no futuro como um acontecimento do passado. O cuidado maior de Bergson é o de entender as relações entre a conservação do passado e a sua articulação com o presente e a interseção vital existente entre o fenômeno da memória e o da percepção.
Sem as lembranças o passado não sobreviveria as gerações futuras e o conhecimento se resumiria ao ato presente. A lembrança é a sobrevivência do passado. No texto de Berson, no entanto, não há uma problematização sobre o sujeito que lembra e muito menos da relação dos sujeitos com as coisas lembradas.

Fonte:
Memória e Sociedade: lembranças de velhos
Livro de
Ecléa Bosi – São Paulo, Companhia das Letras, 2002
Livro pesquisa sobre memória cognitiva e social, que através do relato de vida pessoal contam aspectos da vida da cidade de São Paulo, incluindo fotos. Belissimo livro e trabalho, com bom arcabouço teórico. Usa como fundamentos teóricos entre muitos o embasamento de Henri Bergson e Halwbachs.

Nenhum comentário: