sábado, 19 de março de 2011

A leitura e o princípio do prazer


A leitura e o princípio do prazer

Não há nada mais chato que ler um livro por obrigação. Espero que não seja este o seu caso. Aliás, tudo o que fazemos forçados é inconvenientemente doloroso. É preciso ter prazer naquilo que se faz.

Com a leitura não é diferente. Além do mais, o tempo dedicado a um livro é relativamente maior que a qualquer outro tipo de fruição intelectual. Aí vem sempre aquela velha desculpa: já não tenho tempo para ler livros. Mas o sujeito tem tempo para ir ao cinema, surfar na Internet, jogar conversa fora com os amigos e outros passatempos que lhe dão prazer.

Por isso, se você gosta de ler mas não tem tempo, ou então você, que está começando agora, e não consegue encontrar um livro que não seja chato, um conselho: experimente a leitura por duas, três, quatro páginas. Se não lhe der prazer, tesón, como dizem os hispanos, esqueça: esse livro não lhe merece. Ou vice-versa.

Porque um livro só é verdadeiramente um livro quando encontra um leitor. Livros que enfeitam estantes são tão inúteis quanto uma roda quadrada. O leitor deve interagir com o livro, deve vivê-lo plenamente, mas sem esquecer que o tempo de fruição é mais elástico que o de outras atividades.

Literatura não é cinema, que é consumido numa única sessão de, em média, duas horas. A leitura de um bom livro exige muitas horas e vários dias de dedicação. E se o prazer se mantém, se multiplica, quem ganha é o leitor.

Uma das mais interessantes teorias sobre a interpretação da obra literária é a estética da recepção, que procura analisar a obra literária em função dos inúmeros tipos de leitor que ela pode ter. Aliás, a verdadeira obra de arte traz consigo inúmeras possibilidades de interpretação.

Ao contrário da pose passiva que se esperaria de um leitor em contato com o livro − o livro como um repositório de informações, o leitor como destinatário −, cada leitor se posicionará em relação ao livro de maneira ativa, interagindo com ele de acordo com o seu nível de conhecimento − escolaridade, meio social, religião, profissão, enfim, o seu ambiente.

Se dois leitores de dois ambientes diferentes lerem o mesmo livro, sem dúvida nenhuma produzirão pelo menos duas leituras diferentes.

A Bíblia, por exemplo, que é uma verdadeira floresta de símbolos, terá variadas interpretações se lida sob a luz das várias teologias, e outras tantas ainda quando lida pelo homem comum ou por um intelectual anarquista.

Livro magnífico que é, a leitura da Bíblia não se esgotará jamais, e as divergências ajudarão a iluminá-la com a serena vela da dúvida e a torturante chama da paixão.

Porque essa é a essência da relação leitor/livro: se cada ser humano é único na imensidão do universo, cada livro será, para cada leitor, uma experiência singular, intransferível.

4 comentários:

Genny Xavier disse...

Querido Luiz,

Como não lembrar uns versos de um certo e especialíssimo poeta baiano com a leitura do seu texto postado?

"Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar."

(Castro Alves)

Pois é isso, querido amigo, as leituras nos resgatam.
Beijos,
Genny

Rita Santana disse...

Luiz,

Refletir sobre a leitura é sempre necessário. O livro é como aquela maçã da foto: só em olhá-la dá vontade de devorá-la. Gosto nuito do livro O demônio da Teoria porque ele aprofunda essa relação leitor/texto/autor. E dá uns toques naqueles ortodoxos que costumam enjaular as obras em gêneros e descartar tudo que não caiba na receita. Um beijão, querido!

Luiz Reginaldo Silva disse...

Genny,

Valeu pela colocação fazendo a relação poesia e leitura....como sempre suas palavras nos dá conotação e vontade de escrever sempre.

L U I Z

Luiz Reginaldo Silva disse...

Rita....

Sua gentileza é de uma imensidão incrível....muito boa sua passagem por aqui...vou seguir um pouco de sua leitura...obrigado pela indicação do livro citado...
Valeu..
Um abração bem do seu tamanho e força.
L U I Z