sábado, 25 de junho de 2011

O Mundo das ideias

O Mundo das ideias

Se olharmos 20 cavalos lado a lado iremos verificar que nenhum deles é igual ao outro. Diferem na cor, no tamanho, nos defeitos. Mas saberemos que todos são cavalos. Por que temos esta certeza? Por que temos a imagem mental do que seja um cavalo.

Pois Platão interessou-se por este questionamento. Os filósofos anteriores a Sócrates, e por isso chamados pré-socráticos, se dedicaram a explicar os fenômenos da natureza e de que são constituídas as coisas. Alguns afirmaram que tudo era transitório, outros que nada mudava. Platão aproveitou as duas idéias.

Na natureza tudo era imóvel, mas ao mesmo tempo tudo mudava. O filósofo criou uma teoria de dualidade. Tudo na natureza é composto por duas partes.

Uma que alcançamos por nossos sentidos. Assim vemos o tamanho de um cavalo, sua cor, seus defeitos, sentimos seu cheiro, sentimos sua pele. É o que chamou de mundo sensível. E tudo que pertence a este mundo está em transformação, é transitório.

Mas a outra parte, que ele chamou de mundo das idéias, só é acessível pela razão. Neste mundo está a idéia do que seja um cavalo, a "forma" que "moldou" o cavalo. E o mundo das idéias é eterno e imutável.

O mais interessante, é que na sua teoria, este mundo da idéia existe antes do sensível. A idéia do cavalo existe antes do cavalo em si. Segundo Platão, as almas vivem no mundo das idéias e encarnam no mundo sensível esquecendo das idéias que existiam em seu mundo original. Quando tem contato com os cavalos através dos sentidos vai aos poucos lembrando da idéia de um cavalo. Esta idéia, que alcança através da razão, é o cavalo perfeito, eterno.

Desta forma, a alma existe antes do corpo, e em nosso mundo fica limitada pela matéria. O corpo é uma prisão para a alma. O bom é o mundo das idéias. O mundo da matéria é instável, aparente e tenta imitar sem muito sucesso o mundo das formas.

É claro que muita gente contesta esta idéia de Platão, a começar por seu discípulo mais famoso, Aristóteles. E você? O que acha?

sábado, 18 de junho de 2011

O Senso comum, o que é


O Senso comum...o que é

Em livros e sites de Sociologia (e de Filosofia) encontra-se muitas vezes a afirmação de que o senso comum é um conhecimento prático e a afirmação de que o senso comum é o mesmo que o conhecimento vulgar. No entanto, ambas as afirmações são incorretas e ai explico.

O senso comum inclui conhecimentos práticos (aquilo que se chama saber-fazer, como por exemplo saber cozer um ovo ou saber coser um botão), mas estes são apenas uma parte e não a totalidade do senso comum.

O senso comum inclui também conhecimentos que não são práticos. Nomeadamente, conhecimentos (embora pouco elaborados) de ideias – aquilo que em Filosofia se chama conhecimento proposicional ou “saber que”. Por exemplo: saber que (em Portugal) só se pode votar a partir dos 18 anos, saber que a lixívia debota a roupa, etc.

Por outro lado, o senso comum inclui também superstições (crenças falsas e sem qualquer justificação plausível, como por exemplo acreditar que ver gatos pretos traz infelicidade) e crenças não supersticiosas sobre os mais diversos aspectos da vida (convicções morais, políticas, sociais, etc., como por exemplo acreditar que se deve pagar as dívidas, acreditar que não se deve matar pessoas inocentes, etc.), que não têm um caráter prático.

Não se pode também dizer que o senso comum é o mesmo que o conhecimento vulgar. Os conhecimentos que fazem parte do senso comum são, sem dúvida, “vulgares”: são saberes simples, pouco elaborados e resultam da experiência de vida e não de investigações. Todavia, e como já foi dito, o senso comum inclui também superstições. Estas, sendo crenças falsas e sem justificação, não são conhecimentos. O problema não está, portanto, na palavra “vulgar”, mas na palavra “conhecimento”. Não se pode identificar senso comum e conhecimento vulgar, pois alguns conteúdos do senso comum não são conhecimentos.

As distinções entre senso comum e conhecimento prático e senso comum e conhecimento vulgar estão de acordo com a compreensão que os sociólogos habitualmente têm da natureza e do papel da Sociologia.

A segunda distinção é, nesse contexto, particularmente relevante. Os sociólogos reconhecem que têm de se precaver contra o senso comum. Alguns utilizam a esse respeito a expressão “ruptura com o senso comum”. O que tal expressão significa é que, para constituir conhecimentos sociológicos de caráter científico, o sociólogo não se deve deixar influenciar pelas crenças falsas que adquiriu no seio da sua comunidade ao longo do processo de socialização e não se deve contentar com as crenças verdadeiras que adquiriu do mesmo modo, pois aquelas são superstições enganadoras e estas não passam de conhecimentos vulgares e superficiais que precisam de ser aprofundados.

sábado, 11 de junho de 2011

Do Senso Comum ao Senso Crítico

O Senso Comum está cercado de opiniões não conclusivas, não fundamentadas e isso podemos observar facilmente em nosso cotidiano. Segundo o Dicionário Virtual Priberam, o senso comum é a “faculdade que a generalidade dos homens possui de raciocinar com acerto” e, o senso crítico, a “faculdade de apreciar e julgar com ponderação e inteligência”.

Por essas concepções, já podemos observar que existe relação entre eles. Enquanto no senso comum raciocinamos com a possibilidade de acertar, no senso crítico somos mais analíticos, ponderados e utilizamos de raciocínio inteligente para chegar a uma conclusão. No senso comum não precisamos de experiências para chegar à conclusão de algo, mas sim, de suposições.

Essas suposições encontramos em crenças, tradições e estão fortemente presentes em nossas vidas. Um forte exemplo disso vem lá de nossa infância, quando nossos pais nos proibiam de comer manga e tomar leite. Segundo a lenda, a ingestão dos dois elementos causaria uma forte intoxicação e poderia provocar a morte.

E essa história nada mais é do que realmente uma história, pois sabe-se que foi inventada com o intuito de proibir os escravos de tomarem leite, já que este era muito valorizado comercialmente.

Como chegaram a essa conclusão? Através do senso crítico, da análise, pois foi preciso vivenciar o ato, pesquisar sobre o assunto, para finalmente concluir que a mistura dos dois ingredientes resulta numa excelente vitamina e não numa poção mortal. Esse é só um exemplo que podemos encontrar em nosso cotidiano.

Quem cria, por exemplo, a idéia de moda, beleza, conduta e etiqueta? Os meios de comunicação e as facções políticas são “fábricas” especializadas em manipular as pessoas para compartilhar das mesmas idéias e dos mesmos ideais.

Podemos ainda citar que no Brasil, no auge da ditadura, o ensino de Filosofia e Sociologia foram extirpados das grades curriculares justamente por formar pensadores. E naquele momento, não era isso que o país queria. Queriam pessoas que simplesmente aceitassem sua condição social e não a questionassem.

Passemos então, ao senso crítico, pois mentira, mesmo que repetida mil vezes, só se tornará “verdade” nas cabeças que as aceitarem como tal.

sábado, 4 de junho de 2011

Dialética: Para além do senso comum


Dialética: Para além do senso comum

Para o senso comum, a oposição entre verdadeiro e falso é algo de fixo; habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosófico existente; e, numa explicação sobre tal sistema, ele só admite uma ou outra dessas atitudes. Não concebe a diferença entre os sistemas filosóficos como o desenvolvimento progressivo da verdade; para ele, diversidade significa unicamente contradição. O broto desaparece na eclosão da flor e poder-se-ia dizer que aquele é refutado por esta; do mesmo modo, o fruto declara que a flor é uma falsa existência da planta e a substitui enquanto verdade da planta.


Essas formas não só se distinguem, mas se suplantam como incompatíveis. No entanto, sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgânica em que não só não estão em conflito, mas onde tanto um quanto outro é necessário; e essa igual necessidade faz a vida do conjunto. Mas comumente não é assim que se compreende a contradição entre sistemas filosóficos; e, ademais, o espírito que apreende a contradição habitualmente não sabe liberá-la ou conservá-la livre de sua unilateralidade, e reconhecer na forma, do que parece se combater e se contradizer, momentos mutuamente necessários.