domingo, 4 de janeiro de 2009

Resumo do livro "A Invenção do Nordeste e Outras Artes", de Durval Muniz de Albuquerque Júnior

“O Nordeste é um recorte regional muito recente para ter qualquer tradição”.

Por quê? Nas 317 páginas de “A invenção do Nordeste e Outras Artes” (Cortez Editora, 1999. São Paulo), livro basilar para compreensão e interpretação da produção artística e cultural realizada ao longo do século XX sobre a região se questiona tantas definições. Por que se aceita e venera com tanta intensidade o Nordeste da seca, dos santos beatos, dos tipos festeiros, do batuque do maracatu e cadência do pífano? Por que o Nordeste aceitou tão facilmente a carapuça regionalista? São muitas as perguntas, muitas as dúvidas e desafios também. No resumo a seguir, o pesquisador discute as muitas feições que o Nordeste tem assumido ao longo dos tempos. A conferir

Estamos diante de um livro denso, rico de idéias, uma abordagem interessante sobre o surgimento da região Nordeste na “Paisagem Imaginária” do País no final da primeira década do século XX em substituição a antiga divisão regional do país entre norte e sul; porém, uma região fundada na “Saudade e na Tradição”.

O pesquisador e historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, é doutor em História pela Unicamp e titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Seu texto analisa de forma poética (o eu-lirico do autor aflora magistralmente no enredo em alguns momentos) e científica (pelo rigor da analogia e do método utilizado para mostrar-nos a fantasiosa simbologia criada para este espaço) a evolução de uma região do Brasil, situando-a no conjunto dos mecanismos constitutivos de um projeto de bases culturais e sociais diversificadas.
O autor busca compreender o conteúdo e as modalidades da ação dessas bases culturais, as especificidades dos agentes, os princípios norteadores de sua intervenção, analisando as determinações mais amplas da regionalização e diversificação dessa cultura.
O trabalho apresenta-se organizado em três partes.
No primeiro capítulo, o autor reconstrói, a partir do estudo ”Geografia em Ruínas” (P.39), o desenvolvimento histórico que nos possibilitara a compreensão de toda essa montagem do mosaico do espaço Centro Sul e o Antigo Norte.
Inicialmente, é abordado a eminência de um novo regionalismo, onde se busca enfatizar as mudanças significativas ocorridas nestes espaços nos idos do século XX. De um lado o Centro Sul despontando como centro cultural notável e também centro glamoroso e financeiro do país, com transformações substanciais em todos os âmbitos; do outro, o Antigo Norte, por sua vez, vivenciando também essas mudanças; porém, com a sinonímia da pouca expressividade cultural (não que a região fosse desprovida de cultura; pelo contrário, era riquíssima em todos os aspectos, só que, todos os investimentos e atenções estavam voltados para o Centro Sul), da dependência e submissão.
Porém, é plausível destacar também que, pela primeira vez será discutido a questão do espaço; embora se perceba, um olhar diferente e até depreciador, dependendo do espaço. Vale salientar que, essa idéia de discutir a importância do espaço social passa a ter um significado maior a partir da primeira guerra mundial. Ora, a política desencadeada na Europa sempre refletiu em nosso país; diga-se passagem, com muita intensidade. Portanto, a primeira guerra mundial será o anúncio oficial da digladiação dos países europeus economicamente fortalecidos em busca de espaços. Pois, o capital industrial se expandia e precisava urgentemente apropriar-se de espaços para o escoamento dessa produção e conseqüentemente dominá-los. Neste sentido, será inventado o Nordeste que, terá a mesma função destes espaços “conquistados” pelos capitalistas europeus dominantes. Só que tem um detalhe, no nosso caso será em relação ao Centro Sul.
No que tange a questão da importância do espaço Nacional Brasileiro, vejamos o que afirma o autor, quando é analisado o espaço do Norte e do Sul: “seja na imprensa do Sul, seja nos trabalhos intelectuais que adotam os paradigmas naturalistas, seja no próprio discurso da seca, o Norte aparece como uma área inferior do país pelas próprias condições naturais (...)” (P. 69).
Portanto conclui-se o capítulo tocando na questão do fator natural (clima) e o étnico (raça). E além do mais, é dentro dessa vertente que, será moldada a região Nordeste que irá substituir “a antiga divisão regional do país entre Norte e Sul”.
No segundo capítulo, Durval Muniz procede com a analogia da questão regionalista; desta vez dando ênfase ao espaço no aspecto cultural e político. Grosso modo, o espaço em epígrafe será o nordestino que a partir de então, irá romper com essa dualidade Norte/Sul.
Na análise do espaço nordestino, observa-se que, o plano cultural será mais enfatizado do que o político; embora, não descartemos esse último, pois, o texto deixa transparecer que aquele discurso disperso de outrora da classe dominante da região, agora tem outra conotação: prima em mostrar as rupturas e desigualdades existentes em relação ao Centro Sul. No entanto, os flagelos da seca e da miséria fortalecem esse discurso, causando até mesmo impacto no plano nacional.
Quanto à abordagem cultural, ela é mais incisiva; pois, através das análises sociológicas e antropológicas da região frente ao naturalismo, observa-se a preocupação de vários estudiosos em mostrar e explicar as fissuras sociais existentes naquele espaço.
Dentro desse contexto, o autor é brilhante quando afirma que “é o saber sociológico, preocupado com as questões sociais e culturais, que vai assumindo um papel de suma importância na definição de uma identidade para o brasileiro e para o Brasil, bem como na definição de suas regiões e de seus tipos regionais” (P.93).
Nessa prosa gostosa, chegamos aos “Territórios da Revolta” que será o objeto de estudo do terceiro capítulo do trabalho de Muniz.
Nesse capítulo é analisado o conjunto de idéias de Nordeste, gestada por vários escritores e artistas que comungavam e até militava em partidos de esquerda.
Para o autor, o trabalho desses intelectuais define-se como um serviço de reconstrução da região Nordeste.
Como ele mesmo é enfático em dizer: “a imagem e o texto do Nordeste passam a ser elaborados a partir de uma estratégia que visava denunciar a miséria de suas camadas populares, as injustiças sociais a que estavam submetidas e, ao mesmo tempo, resgatar as práticas e discursos de revolta popular ocorridos neste espaço (...) as terríveis imagens do presente servem de ponto de partida para a construção de uma miragem futura (...)” (184).
Desse modo, a nosso ver, o trabalho do professor Durval Muniz, como instrumento de análise e alerta de uma região marginalizada pelos donos do poder, pode ser incluído dentro de uma perspectiva redentora e valorativa da cultura e do espaço nordestino. Como ele mesmo afirma que, “o Nordeste é uma produção imagético-discursivo formada a partir de uma sensibilidade cada vez mais especifica, gestada historicamente, em relação a uma dada área do país. E é tal a consistência desta formulação discursiva e imagética que dificulta, até hoje, a produção de um nova configuração de ‘verdades’ sobre este espaço” (p.49).

Palavras-chave: Nordeste, regionalismo, história social
Até o próximo artigo!

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa, mas deixou a desejar...!

Atenciosamente,

M.A

Anônimo disse...

Muito bom, mas faltou usar uma linguagem mais dinâmica e acessível...

Anônimo disse...

Excelente.Completo para uma resenha .Fiquei com vontade de ler o livro.Leitura acessível e bastante dinâmica.