sábado, 2 de abril de 2011

Filosofia é o limite!


FILOSOFIA: decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido.

A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada primeira proposição filosófica.

Se dermos crédito a Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3].

Cabe perguntar o que haveria de filosófico na proposição de Tales. Muitos ensaiaram uma resposta a esta questão. Hegel, por exemplo, afirma: "com ela a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é a nossa percepção sensível". Segundo Hegel, o filosófico aqui é o encontro do universal, a água, ou seja, um único como verdadeiro. Nietzsche, por sua vez, afirma:

"a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matiz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisália [sic], está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego".

O importante é a estrutura racional de tratamento das questões. Nietzsche analisa esse texto, não sem crítica, e remarca a violência tirânica como essa frase trata toda a empiria, mostrando que com essa frase se pode aprender como procedeu toda a filosofia, indo, sempre, para além da experiência.

A Filosofia representa, nessa perpectiva, a passagem do mito para o logos. No pensamento mítico, a natureza é possuída por forças anímicas. O homem, para dominar a natureza, apela a rituais apaziguadores. O homem, portanto, é uma vítima do processo, buscando dominar a natureza por um modo que não depende dele, já que esta é concebida como portadora de vontade. Por isso, essa passagem do mito à razão representa um passo emancipador, na medida em que libera o homem desse mundo mágico.

"De um sistema de explicações de tipo genético que faz homens e coisas nascerem biologicamente de deuses e forças divinas, como ocorre no mito, passa-se a buscar explicações nas próprias coisas, entre as quais passa a existir um laço de causalidade e constâncias de tipo geométrico [...] Na visão que os mitos fornecem da realidade [...] fenômenos naturais, astros, água, sol, terra, etc., são deuses cujos desígnios escapam aos homens; são, portanto, potências arbitrárias e até certo ponto inelutáveis".

A idéia de uma arqué, que tem sentido amplo em grego, indo desde princípio, origem, até destino, porta uma estrutura de pensamento que a diferencia do modo de pensar anterior, mítico. Com Nietzsche, pode-se concluir que o logos da metafísica ocidental visa desde o princípio à dominação do mundo e de si. Se atentarmos para a estrutura de pensamento presente no nascimento da Filosofia, podemos dizer que seu logos engendrou, muitos anos depois, o conhecimento científico. Assim, a estrutura presente na idéia de átomo é mesma que temos, na ciência atual, com idéia de partículas. Ou seja, a consideração de que há um elemento mínimo na origem de tudo. A tabela periódica também pode ser considerada uma sofisticação da idéia filosófica da combinatória dos quatro elementos: ar, terra, fogo, água, da qual tanto tratou a filosofia eleática.

Portanto, a Filosofia pode ser considerada como uma espécie de saber geral, omniabrangente. Um tal saber, hoje, haja vista os desenvolvimentos da ciência, é impossível de ser atingido pelo filósofo.

Um comentário:

José Lima Dias Júnior disse...

Prezado Luiz,

Quando o pensamento filosófico ou a Filosofia surgiu na Grécia antiga, do século VI a.C., durante o período da Antiguidade clássica. A partir da cidade de Mileto - cidade da costa da Jônia, na Ásia Menor - , alguns homens (filósofos) começaram a questionar o pensamento mítico.

O Pensador de Auguste Rodin.

Os primeiros filósofos (Tales, considerado fundador da filosofia; Anaximandro e Anaxímenes) buscaram um princípio que explicasse a existência do mundo sem recorrer ao mito (mythos). No pensamento mítico, o surgimento do mundo, dos seres humanos e das coisas foram por muito tempo atribuição dos deuses. Assim, as explicações míticas, ao que parece, satisfizeram durante séculos a curiosidade dos antigos gregos para a origem do mundo.

Foram as circunstâncias econômicas, sociais e culturais que levaram o aparecimento da filosofia na Grécia. Com isso, os antigos filósofos começaram a compreender e a explicar o mundo de uma maneira nova. Essa compreensão foi resultado das experiências e das observações sobre o funcionamento da natureza. Desta forma, o novo modo de pensar desvinculado da tradição mitológica, surgiu com a finalidade de estimular o pensamento crítico e a reflexão, além de contribuir para que os filósofos obtivessem novas representações do mundo, da sociedade, da humanidade e de suas ideais. Assim, para os filósofos gregos ("amigos do saber", concepção de Platão), não havia uma origem única para a multiplicidade das coisas que existem na natureza.

Foi por meio da Filosofia que ocorreu a sistematização do pensamento, através do uso da razão. Dai a importância que devemos dar ao pensamento filosófico.

Desse modo, o estudo da Filosofia, implica pensar que, é preciso estimular os jovens o gosto pela leitura, de conhecer a história do pensamento filosófico, para que dessa forma, sejam capazes de pensar por si mesmo e de compreender, em sua verdadeira dimensão, o mundo e a realidade que os cercam.

Por isso, o pensamento filosófico é imprescindível para a humanidade, já que por meio da razão, os seres humanos são levados a entender a essência escondida atrás da aparência das coisas. Portanto, é o pensamento filosófico que torna visíveis as coisas, conduzindo o homem ao mundo intelígivel, tirando-o da ignorância, da superstição e do fanatismo religioso.

Saudações cordiais,
Prof. Lima Júnior