Ideologia
e alienação
A variação das condições materiais de uma
sociedade constitui a História dessa sociedade e Marx as designou como modos de
produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de
produção para outro. Tal mudança não se realiza por acaso nem por vontade livre
dos seres humanos, mas acontece de acordo com condições econômicas, sociais e
culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de uma maneira também
determinada, graças à práxis humana diante de tais condições dadas.
O fato de que a mudança de
uma sociedade ou a mudança histórica se faça em condições determinadas, levou
Marx a afirmar que: “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições
determinadas”, isto é, que não foram escolhidas por eles. Por isso também, ele
disse: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.
Estamos, aqui, diante de uma
situação coletiva muito parecida com a que encontramos no caso de nossa vida
psíquica individual. Assim como julgamos que nossa consciência sabe tudo, pode
tudo, faz o que pensa e quer, mas, na realidade, está determinada pelo inconsciente
e ignora tal determinação, assim também, na existência social, os seres humanos
julgam que sabem o que é a sociedade, dizendo que Deus ou a Natureza ou a Razão
a criaram, instituíram a política e a história, e que os homens são seus
instrumentos; ou, então, acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam
porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das
coisas como e quando quiserem.
Por exemplo, quando alguém
diz que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou
ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade,
como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não
tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém
diz ser pobre “pela vontade de Deus” e não por causas das condições concretas
em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista, segundo a qual “a Natureza
fez alguns superiores e outros inferiores”.
A alienação social é o
desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos,
produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas
anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não
se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas,
por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres,
capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das
instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem
que instituem a sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída
determina seus pensamentos e ações