sábado, 24 de abril de 2010

Em defesa da Língua Portuguesa 2


E dando continuidade ao post anterior...

A geografia da língua portuguesa foi, na origem, quase a mesma das grandes descobertas dos navegadores do mesmo país. As línguas dos autóctones foram substituídas com força no lado atlântico da América do Sul. Na Ásia, o pequeno tamanho da colonização e a resistência local impediram uma vitória lingüística total. Na África, a presença do português jamais obteve o esmagamento completo das línguas locais.
Hoje, como efeito da força das emigrações para os países ricos e de outros problemas da mundialização, esta língua está presente bem longe das viagens dos portugueses. É falada nos Estados Unidos, no Canadá, na França etc.
A geografia física determina a posição ocidental de Portugal. Este país seria um país do Ocidente. No nível físico, é isto mesmo. Portugal é um país europeu-ocidental. Hoje, muitos dos portugueses adoram o fato da incorporação de seu país ao Euro e à CEE. O passado de isolamento foi superado.
No sentido da cultura e da história, as coisas são bem diferentes. O Império colonial de Portugal incluiu partes da América do Sul, da África e da Ásia. Dois séculos antes das grandes descobertas e do início das colonizações, Portugal era parte de uma região européia bastante arabizada. A Idade Média de Portugal foi vivida, em grande parte, sobre a dominação árabe.
É possível perceber um resultado bastante complexo e mestiçado nos espíritos dos portugueses. Observe-se a existência, na cultura portuguesa, dos traços da complexidade geográfica do Império. É possível ver fortes vestígios das culturas dos colonizados e dos antigos dominadores dos colonizadores.
É bom lembrar o fato da grande duração do feudalismo português e da presença da cultura católica da Contra-Reforma, até o século XX.
O barroco português misturou-se, por exemplo, com as culturas do Brasil. Isto resultou no barroco brasileiro, ainda muito presente na cultura oral e, de modo impressionante, nos meios de comunicação atuais do Brasil.
O sucesso das telenovelas brasileiras em Portugal, por exemplo, está ligado a mesma árvore de origem das culturas de ambos países. Os gostos alimentares dos brasileiros e dos portugueses são próximos, no sentido da utilização dos produtos de origem européia, americana e oriental. Visitar um mercado de produtos orientais ou africanos é, no mesmo sentido, se aproximar de culturas comuns.
A língua portuguesa é a pátria de várias culturas do passado e do presente. No Brasil atual, pode-se ver o crescimento da pressão e da incorporação da língua inglesa pelo português brasileiro.
Em passado recente, pôde-se ver, até a década de 1960, ocorrer o mesmo com a língua francesa e sua influência no português do Brasil. Sabe-se que coisas semelhantes ocorreram nas ex-colônias lusófonas da África e no português de Portugal.
Chegam, hoje, tristes notícias de ameaças concretas do português desaparecer na Guiné Bissau, substituído pelo francês, e do inglês estar substituindo progressivamente o português de Moçambique.
A língua portuguesa continua e continuará a viver dentro das possibilidades de seu futuro histórico. Isto depende de nós. É preciso que exista o engajamento da vanguarda dos seus falantes, para fazer continuar sua história em muitos dos lugares do mundo onde ela é presente.
Não se pode aceitar o mundo com apenas uma língua de comunicação. Isto significa um mundo sem uma alma cultural e sem história. Proclama-se em qualquer língua a beleza do português, sua importância como meio de comunicação humano, que carrega a história de vários povos do mundo.
No presente, a diáspora dos trabalhadores de todas as profissões continua a semear a língua portuguesa em escala universal. Agora, não mais existem os limites geográficos do passado. Os novos limites são os das fronteiras econômicas da mundialização.
Mesmo assim, ainda há um risco, talvez mais forte do que no passado, de a língua de Camões e de Saramago desaparecer ou ficar ainda mais frágil. Está disseminada a idéia do pensamento único e de uma única língua ‘natural’ desta maneira de ver o mundo.
Pode-se resistir!

sábado, 17 de abril de 2010

Em defesa da Língua Portuguesa


Em defesa da língua portuguesa no nosso país

Ainda há um risco, talvez mais forte do que no passado, de a língua de Camões e de Saramago desaparecer ou ficar ainda mais frágil. Está disseminada a idéia do pensamento único e de uma única língua ‘natural’ desta maneira de ver o mundo.

Meio milênio depois da descoberta das Américas e da criação e do desenvolvimento da América portuguesa, é bom refletir sobre o produto cultural mais significativo deste processo: a língua portuguesa. Antes de este artigo ser escrito, a Mangueira – Salve a Mangueira! – já havia, na vanguarda da cultura popular brasileira, lembrado disto, no belíssimo samba-enredo deste ano.
O Império colonial luso foi formado na mesma época acima citada, indo muito mais longe. Incluiu várias regiões da África e da Ásia. No que viria a ser o Brasil, o Império criou sua mais rica colônia sustentada pelo braço dos autóctones e dos africanos convertidos em escravos e imigrados forçados.
Na África, o mesmo Império organizou o tráfico de seres humanos e a produção de subsistência local. Na Ásia, permaneceu no Japão por um século, mordiscou as costas da Índia, do sudeste asiático e da velha China, chegando à Oceania, onde não se estabeleceu, mas se aproximou com algum interesse das costas australianas.
Como conseqüência destes e de outros problemas, a língua portuguesa tem quinhentos ou mais anos de presença nos quatro cantos do mundo. Mesmo que o português não tenha conseguido se consolidar em todos os lugares por onde passou, de algum jeito deixou sua marca que continua a reverberar. Hoje, sobretudo, a partir do seu maior contingente de falantes, isto é, do Brasil.
No tempo da diáspora mundializada, os falantes do português avançaram ainda mais. Eles estão por toda parte através da emigração na direção de onde ainda existe trabalho e salários melhores.
Em alguns casos, esta língua, quando está fora do seu território original, contenta-se em ser uma fala da família e/ou da comunidade da mesma origem. As novas gerações dos filhos dos emigrantes para os países mais ricos estão a perdendo. As versões escritas e faladas do português são fundamentais para manter a comunicação viva desta língua no cérebro de todos os envolvidos.
As descobertas e os processos de colonização jamais foram um caminho de mão única. Os colonizadores sofreram influências dos colonizados. Estes últimos também descobriram novas culturas que chegaram por meio da nova língua de comunicação, imposta pelo poder colonial.
Não se sabe muito sobre os sentimentos dos ameríndios, dos africanos e dos asiáticos sobre a língua do colonizador português. Os vencedores construíram suas versões dos fatos. Pode-se imaginar a surpresa inicial e, no próximo passo, a revolta contra a opressão.
Com o tempo, a língua do colonizador transformou-se na principal língua de comunicação. Todavia, houve sempre a incorporação de palavras, costumes, acentos e outras características dos colonizados. Isto é o que aconteceu de modo muito evidente no Brasil e nas colônias portuguesas na África.
Há várias formas de falar e escrever o português. Todas as tentativas de se tentar criar uma forma única - a que seria justa e correta - não conseguiram sucesso. Não é possível impedir os povos de manejar as suas línguas de acordo com as suas histórias, culturas e interesses.
Não existe a possibilidade de um português perfeito. Isto é uma utopia negativa e desmobilizadora. O mesmo se pode dizer de um francês perfeito etc. As línguas são corpos vivos nas almas das pessoas que as utilizam por toda a vida. Fazem parte dos corpos biológicos dos que as conseguem falá-las, escrevê-las e retê-las em seus registros neurais.
A capacidade da língua portuguesa de se adaptar e de ser falada por culturas muito diferentes é a mesma do inglês e do francês. O português é uma língua de cultura, equivalente às demais línguas modernas. Isto quer dizer que se pode falar de qualquer coisa simples ou complexa, usando-se a língua de Camões.
A vitória desta língua consiste na: força de mais do que 200 milhões de falantes; existência de uma vasta e complexa literatura; presença de redes científicas que trabalham em português; incorporação do léxico e da sintaxe das experiências culturais européias, africanas, americanas e asiáticas; onipresença da música cantada em português e de vários outros artefatos da indústria cultural que fala o português.

sábado, 10 de abril de 2010

Cultura popular em xeque


A linguagem coloquial, informal ou popular é aquela linguagem que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a linguagem popular, falada no quotidiano.

Outro significado

A linguagem coloquial, informal ou popular é uma linguagem utilizada no cotidiano em que não exige a observância total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação feita através de jornais, revistas e principalmente num diálogo. Na linguagem informal usam-se muitas gírias e palavras infanto-juvenis e livros de muitos diálogos. Em contrapartida a linguagem formal ou culta é aquela que carrega consigo a rigidez das normas gramaticais, utilizada principalmente em textos e profissões que a exigem como no Direito.


O nível popular está associado à simplicidade da utilização linguística em termos lexicais, fonéticos, sintácticos e semânticos. Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. Tomem-se a título exemplificativo os excertos que se seguem: «Minha santa filha do meu bô coração/ Cá arrecebi a tua pera mim muito estimada carta e nela fiquei ciante e sastifeita por saber que andavas rija e fera na cumpanhia do teu marido.» (Aquilino Ribeiro, O Homem na Nave); «- Ó Tio Luís, ó Tio Luís!.../ - Que é? / - Vossemecê não vê? (...)/ - Ouviste por 'i berrar uma cabra?» (Camilo Castelo Branco, Maria Moisés, pp. 44-45).

A língua portuguesa possui uma relevante variedade de dialetos, muitos deles com uma acentuada diferença lexical em relação ao português padrão. Tais diferenças, entretanto, não prejudicam muito a inteligibilidade entre os locutores de diferentes dialetos.

O português europeu padrão (também conhecido como "estremenho") modificou-se mais que as outras variedades. Mesmo assim, todos os aspectos e sons de todos os dialetos de Portugal podem ser encontrados nalgum dialeto no Brasil. O português africano, em especial o português santomense tem muitas semelhanças com o português do Brasil (também conhecido como "fluminense"), também os dialetos do sul de Portugal apresentam muitas semelhanças, especialmente o uso intensivo do gerúndio. Na Europa, o alto-minhoto e o transmontano são muito semelhantes ao galego.

Mesmo com a independência das antigas colônias africanas, o português padrão de Portugal é o padrão preferido pelos países africanos de língua portuguesa. Logo, o português apenas tem dois dialetos de aprendizagem, o europeu e o brasileiro. Note que, na língua portuguesa há dois dialetos preferidos em Portugal: o de Coimbra e o de Lisboa. No Brasil, o dialeto preferido é o falado e muito mais escrito pelos habitantes cultos das grandes cidades.

sábado, 3 de abril de 2010

Nossa lingua nacional


um pouco do significado de nossa lingua...

É a língua do povo de uma nação enquanto relacionada com um Estado politicamente constituído. A língua nacional é por isso vista como a língua oficial de um país. Ter uma língua como própria de um país funciona como um elemento de sua identidade política e cultural. Mas não há correspondência direta entre uma língua nacional e um Estado. Cada país pode ter mais de uma língua oficial em virtude de ter na sua história e constituição povos diferentes.

A língua nacional caracteriza-se como uma em virtude de uma relação de unidade imaginária da língua que é atribuída à Nação. No entanto se observamos uma língua nacional vamos observar que no seu funcionamento global ela apresenta uma diversidade interna muito grande. Há a língua do cotidiano que difere da língua escrita. Há a língua de um grupo social que difere da língua de outro grupo social Há a língua de uma região que difere da língua de outra região. Há a língua de um grupo profissional que difere da língua de outro grupo profissional. No Brasil, por exemplo, há diferenças grandes entre a língua do Centro-oeste e a do Sul, entre a do Sul e a do Sudeste, entre estas e a língua do Nordeste ou do Norte. E mesmo dentro de uma região podemos ver diferenças significativas. Até mesmo dentro de uma cidade, se ela for grande, estas diferenças podem aparecer. É nesta medida que a língua nacional aparece como uma unidade imaginária que funciona como a garantia de que todos, o povo, tem a mesma língua. As diferenças entre as variedades de uma língua é com freqüência chamada de dialeto.

Esta não coincidência entre a língua no seu funcionamento real e a unidade imaginária da língua em geral opera a partir da identificação de uma das variedades de língua que passa a funcionar como a língua. Em geral é tomada como a língua a língua escrita pelas pessoas de alta escolaridade e a língua falada também por estas pessoas em situações formais. Esta variedade da língua passa a funcionar assim como modelo e leva a que as outras variedades de língua ou formas delas sejam consideradas como erradas. A noção de erro em língua é deste modo uma noção que opera uma hierarquização social das relações entre variedades existentes da língua. A noção de erro é assim uma noção constituída pelas relações de poder envolvidas nas relações de línguas. As relações de poder nas relações de línguas não se reduzem, no entanto, só à noção de erro.