sábado, 29 de outubro de 2011

Ideologia e alienação




Ideologia e alienação

 A variação das condições materiais de uma sociedade constitui a História dessa sociedade e Marx as designou como modos de produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de produção para outro. Tal mudança não se realiza por acaso nem por vontade livre dos seres humanos, mas acontece de acordo com condições econômicas, sociais e culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de uma maneira também determinada, graças à práxis humana diante de tais condições dadas.

O fato de que a mudança de uma sociedade ou a mudança histórica se faça em condições determinadas, levou Marx a afirmar que: “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições determinadas”, isto é, que não foram escolhidas por eles. Por isso também, ele disse: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.

Estamos, aqui, diante de uma situação coletiva muito parecida com a que encontramos no caso de nossa vida psíquica individual. Assim como julgamos que nossa consciência sabe tudo, pode tudo, faz o que pensa e quer, mas, na realidade, está determinada pelo inconsciente e ignora tal determinação, assim também, na existência social, os seres humanos julgam que sabem o que é a sociedade, dizendo que Deus ou a Natureza ou a Razão a criaram, instituíram a política e a história, e que os homens são seus instrumentos; ou, então, acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem.

Por exemplo, quando alguém diz que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém diz ser pobre “pela vontade de Deus” e não por causas das condições concretas em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista, segundo a qual “a Natureza fez alguns superiores e outros inferiores”.

A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações

sábado, 22 de outubro de 2011

Ideologias



Ideologias

Ideologias não são meramente pensamentos etéreos, filosóficos, metafísicos, que vagam nas cabeças de algumas pessoas desocupadas. São idéias que presidem todas as decisões e todas as ações, de todas as gentes e de todas as sociedades. A repetição da palavra todas é propositada. Elas definem uma postura de vida, uma visão política, uma direção econômica, enfim, coisas muito práticas.

Para efeito didático, é válido pensar, nesta oportunidade, em esquerda e direita, a maniqueísta divisão político-ideológica, embora no dia-a-dia existam várias posições entre esses extremos, que se igualam na radicalização dos procedimentos.

A ideologia da esquerda é geralmente associada ao projeto socialista (carente de uma definição precisa). É a quimera da igualdade, fraternidade (não paternalista), nacionalista (não xenófobo; na verdade internacionalista numa etapa mais avançada) e distributivista (mesmo que a distribuição igualitária e absoluta seja utópica). Nesse modelo, o Estado teria maior participação no planejamento global das atividades, especialmente na alocação dos investimentos (públicos e privados), visando a uma economia de bem-estar, mais justa; objetivos estes mais desejáveis do que o crescimento econômico a qualquer custo, sem sustentabilidade. A história nos forneceu alguns exemplos autoritários, na implantação de regimes socialistas e comunistas não muito compatíveis com os fins que se dizia atingir. Daí por que muita gente não considera essa posição ideológica como democrática, o que é um lamentável erro.

A ideologia da direita, excluídos, como sempre, os radicalismos (nazifascismo, militarismo, colonialismo, imperialismo), é geralmente associada ao regime capitalista (mais fácil de definir porque convivemos nele e com ele). Aqui prevalecem as forças do mercado, com forte componente mercadológico (“marketing”) e consumista. Mais recentemente de forte conteúdo financeiro. É o modelo da “mão invisível”, da iniciativa privada, onde o Estado se limita às funções reguladoras e às atividades socialmente importantes que não são lucrativas. Dessa forma, as necessidades da sociedade seriam bem atendidas. Todos, na busca egoísta do seu bem-estar, provocariam o almejado bem-estar geral

 Aquela é a ideologia da solidariedade, esta a da competitividade. Aquela é um projeto, a despeito das tentativas mal-sucedidas. Esta o deja vu, a espera das conseqüências. Ambas se justificam com suas ótimas intenções (das quais o inferno está cheio).

Ambas as visões são criações humanas, defendidas e colocadas em prática por pessoas e, como tais passíveis dos humores, defeitos, ambições e vilezas do ser humano. Como também nas idealizações religiosas.

Em nossa porção ocidental do planeta, boa parte da população incorre geralmente em outro erro, por razões óbvias, quando pensam que as ideologias, só as têm, aqueles que sonham e querem um modelo alternativo, tipo socialista, ou os inimigos das mazelas capitalistas. Como se capitalismo não fosse uma ideologia.

Tudo é ideologia. Inclusive a tentativa de “desideologização” da discussão, da decisão e da ação. Como se houvesse um modelo correto de agir, e o outro fosse subversivo (demoníaco mesmo) ao pensamento vigente e flagrantemente vitorioso neste começo do século XXI. Modelo esse que, depois da queda da União Soviética, vem sendo fortemente aceito por grandes países orientais. Depois do Japão, vencido na Segunda Guerra, mais recentemente temos o exemplo da própria Rússia e da China (um país ainda politicamente comunista) e dos países do sudeste asiático, como exemplos da avassaladora escalada capitalista.

Geralmente, aquelas tentativas de “desideologização” têm como alvos os defensores da ideologia, digamos, de esquerda, alternativa. Como se estes fossem os monopolistas da ideologia. Nada é isento de ideologia: da educação, da cultura, da tecnologia, da ecologia à maneira como se portar em sociedade. No estilo do Nelson Rodrigues: sem ideologia não se chupa nem sequer um chica-bon!

sábado, 15 de outubro de 2011



Função social da ideologia


Na perspectiva marxista , a ideologia é um conceito que denota "falsa consciência": uma crença mistificante que é socialmente determinada e que se presta a estabilizar a ordem social vigente em benefício das classes dominantes. Quando a ideologia da classe dominante sofre sérios abalos, devido ao surgimento de conflitos sociais (contradições sociais), há riscos de ocorrer uma ruptura da ordem social vigente por um movimento revolucionário.

Historicamente, a burguesia também foi uma classe revolucionária que rompeu com a ordem social do 
feudalismo e impôs o modo de produção capitalista. Portanto, Marx argumenta que na ordem social capitalista, o proletariado, ou seja, todos aqueles que não são proprietários dos meios de produção e precisam vender sua força de trabalho para sobreviver - são os sujeitos depositários da esperança de uma ruptura revolucionária.

Para que isso ocorra, entretanto, o proletariado precisa primeiramente romper com a ideologia burguesa. E isso só se torna possível quando ele toma consciência de sua condição de classe dominada e explorada.

Uso corrente do termo "ideologia"


Nas pesquisas sociológicas empíricas (ou seja, de caráter não-teórico), é bastante comum o emprego do termo ideologia. Porém, ele é utilizado como recurso metodológico.

O objetivo é somente descrever o conjunto de idéias, valores ou crenças que orientam a percepção e o comportamento dos indivíduos sobre diversos assuntos ou aspectos sociais, como, por exemplo, as opiniões e as preferências que os indivíduos têm sobre o sistema político vigente, a ordem pública, o governo, as leis, as condições econômicas e sociais, entre outros.

sábado, 8 de outubro de 2011



A ideologia segundo Marx



A referência ao pensador e filósofo alemão Karl Marx, é muito importante para qualquer estudo sobre os significados do termo ideologia. O estudo mais relevante de Marx sobre o tema é o texto chamado de "A Ideologia Alemã". Para Marx, a produção das idéias não pode ser analisada separadamente das condições sociais e históricas nas quais elas surgem. 

Em "A Ideologia Alemã", o fundador do marxismo dirige inúmeras críticas a vários filósofos e ideólogos alemães justamente para demonstrar que o pensamento, as idéias e as doutrinas produzidas por eles não são neutras. Muito pelo contrário, elas estão impregnadas de noções, isto é, de ideologias provenientes das condições sociais particulares da Alemanha daquele período. 

Marx também distingue tipos de ideologias que são produzidas: política, jurídica, econômica e filosófica. Com base nos pressupostos teóricos do materialismo histórico, o pensador alemão demonstra que a ideologia é determinada pelas relações de dominação entre as classes sociais. 

Ao se referir à ideologia burguesa, Marx entende que as idéias e representações sociais predominantes numa sociedade capitalista são produtos da dominação de uma classe social (a burguesia) sobre a classe social dominada (o proletariado). 

A existência da propriedade privada e as diferenças entre proprietários e não-proprietários aparecem, por exemplo, nas representações sociais dos indivíduos como algo que sempre existiu e que faz parte da "ordem natural" das coisas. Essas representações sociais, porém, servem aos interesses da burguesia, classe social que controla os meios de produção numa sociedade capitalista. 

sábado, 1 de outubro de 2011

Novos significados de ideologia



Novos significados de ideologia


Nas décadas seguintes à publicação do livro de Destutt de Tracy, o termo ideologia foi utilizado com outros significados. Ele também reaparece de maneira recorrente nos estudos dos filósofos e pensadores que fundaram a sociologia.

O francês 
Auguste Comte, criador da doutrina positivista, compartilha da definição de Destutt de Tracy: a ideologia é uma atividade filosófico-científica que estuda a formação das idéias a partir da observação do homem no seu meio ambiente. 

Por outro lado, o sociólogo francês Émile Durkheim usa o termo de maneira distinta. Para Durkheim, os fatos sociais são considerados objetos únicos de estudo da sociologia. Na perspectiva durkheimiana, as idéias e valores individuais (ou seja, a ideologia) são irrelevantes porque os fatos sociais são manifestações externas, isto é, estão fora e acima das mentes de cada sujeito que integra a sociedade. 

Portanto, para Durkheim, a ideologia é negativa porque nasce de uma noção "pré-científica" e, por isso mesmo, imprópria para o estudo objetivo da realidade social.