sábado, 22 de outubro de 2011

Ideologias



Ideologias

Ideologias não são meramente pensamentos etéreos, filosóficos, metafísicos, que vagam nas cabeças de algumas pessoas desocupadas. São idéias que presidem todas as decisões e todas as ações, de todas as gentes e de todas as sociedades. A repetição da palavra todas é propositada. Elas definem uma postura de vida, uma visão política, uma direção econômica, enfim, coisas muito práticas.

Para efeito didático, é válido pensar, nesta oportunidade, em esquerda e direita, a maniqueísta divisão político-ideológica, embora no dia-a-dia existam várias posições entre esses extremos, que se igualam na radicalização dos procedimentos.

A ideologia da esquerda é geralmente associada ao projeto socialista (carente de uma definição precisa). É a quimera da igualdade, fraternidade (não paternalista), nacionalista (não xenófobo; na verdade internacionalista numa etapa mais avançada) e distributivista (mesmo que a distribuição igualitária e absoluta seja utópica). Nesse modelo, o Estado teria maior participação no planejamento global das atividades, especialmente na alocação dos investimentos (públicos e privados), visando a uma economia de bem-estar, mais justa; objetivos estes mais desejáveis do que o crescimento econômico a qualquer custo, sem sustentabilidade. A história nos forneceu alguns exemplos autoritários, na implantação de regimes socialistas e comunistas não muito compatíveis com os fins que se dizia atingir. Daí por que muita gente não considera essa posição ideológica como democrática, o que é um lamentável erro.

A ideologia da direita, excluídos, como sempre, os radicalismos (nazifascismo, militarismo, colonialismo, imperialismo), é geralmente associada ao regime capitalista (mais fácil de definir porque convivemos nele e com ele). Aqui prevalecem as forças do mercado, com forte componente mercadológico (“marketing”) e consumista. Mais recentemente de forte conteúdo financeiro. É o modelo da “mão invisível”, da iniciativa privada, onde o Estado se limita às funções reguladoras e às atividades socialmente importantes que não são lucrativas. Dessa forma, as necessidades da sociedade seriam bem atendidas. Todos, na busca egoísta do seu bem-estar, provocariam o almejado bem-estar geral

 Aquela é a ideologia da solidariedade, esta a da competitividade. Aquela é um projeto, a despeito das tentativas mal-sucedidas. Esta o deja vu, a espera das conseqüências. Ambas se justificam com suas ótimas intenções (das quais o inferno está cheio).

Ambas as visões são criações humanas, defendidas e colocadas em prática por pessoas e, como tais passíveis dos humores, defeitos, ambições e vilezas do ser humano. Como também nas idealizações religiosas.

Em nossa porção ocidental do planeta, boa parte da população incorre geralmente em outro erro, por razões óbvias, quando pensam que as ideologias, só as têm, aqueles que sonham e querem um modelo alternativo, tipo socialista, ou os inimigos das mazelas capitalistas. Como se capitalismo não fosse uma ideologia.

Tudo é ideologia. Inclusive a tentativa de “desideologização” da discussão, da decisão e da ação. Como se houvesse um modelo correto de agir, e o outro fosse subversivo (demoníaco mesmo) ao pensamento vigente e flagrantemente vitorioso neste começo do século XXI. Modelo esse que, depois da queda da União Soviética, vem sendo fortemente aceito por grandes países orientais. Depois do Japão, vencido na Segunda Guerra, mais recentemente temos o exemplo da própria Rússia e da China (um país ainda politicamente comunista) e dos países do sudeste asiático, como exemplos da avassaladora escalada capitalista.

Geralmente, aquelas tentativas de “desideologização” têm como alvos os defensores da ideologia, digamos, de esquerda, alternativa. Como se estes fossem os monopolistas da ideologia. Nada é isento de ideologia: da educação, da cultura, da tecnologia, da ecologia à maneira como se portar em sociedade. No estilo do Nelson Rodrigues: sem ideologia não se chupa nem sequer um chica-bon!

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