sábado, 10 de julho de 2010

Subcultura


Subcultura e "cenas" musicais

A partir da Segunda Guerra Mundial, vê-se o surgimento de diversas manifestações culturais ligadas a uma nova condição juvenil. As formas de expressão, práticas, atitudes e comportamento diferenciados dos grupos de jovens reunidos por um estilo e interesses comuns foram caracterizados, ao longo das últimas décadas, como subculturas.

O conceito de subcultura solidificou-se ao longo das décadas de 1970 e 1980, principalmente no campo dos Estudos Culturais alinhado ao Centro de Estudos Culturais Contemporâneos da Universidade de Birmingham (CCCS). Dick Hebdige (1996), na obra que se tornou referência para os estudos da área, Subculture, the meaning of style, publicado originalmente em 1979, apresenta a seguinte definição para subcultura:

Os estudos de subcultura trouxeram significativas contribuições ao abordar a importância do estilo, dos significados referentes aos símbolos criados e recriados nos bens de consumo por estes jovens. As análises mais recentes, porém, têm promovido uma revisão crítica e séria questionamentos da abordagem subculturalista.

Um dos problemas identificados é que as subculturas são geralmente posicionadas por aqueles estudos a partir de dicotomias limitadores, como resistência-cooptação, posições hegêmonicas-posições subordinadas, em uma perspectiva que se mostra distante do cotidiano dos jovens analisados, além de pouco atentar para as relações entre estes, os movimentos que ele participam e a mídia, assim como a complexidade das práticas sócio-culturais juvenis.

O conceito de “cena” surge como forma de tentar superar as principais limitações presentes nas teorias de subcultura, enfatizando outro aspecto negligenciado naqueles estudos, a questão da localidade. Identificar as particularidades do local em relação ao global e as relações entre estes, mapear e discutir os significados das práticas culturais dessas manifestações juvenis específicas, abordar as relações destes jovens com o espaço urbano são pontos enfatizados pelos trabalhos mais recentes.

Uma das principais características dessas diversas formas de manifestações é o papel da música como um elemento central na congregação dos jovens em grupos específicos. O punk-rock, com letras de protesto e a celebração do “tosco” no processo de composição musical, é o eixo principal do movimento punk, o oi! (derivado do punk) é o estilo musical de preferência dos skinheads, o rap é um dos elementos principais da cena hip hop, os gêneros da música eletrônica na cena club e rave ou de música eletrônica em uma visão mais ampla. Coexistindo com outras no espaço urbano, uma cena musical poderia ser conceituada como:

A construção dessas “práticas musicais contemporâneas” e do “patrimônio musical” na cena de música eletrônica implica em uma multiplicidade de questões, como a celebração do hedonismo nas pistas de dança, a crescente participação dos gêneros da e-music no mercado musical e a influência que estes exercem na produção musical contemporânea, as relações sociais presentes nos ambientes específicos de clubs noturnos e raves, a configuração de políticas de gênero e classe nesses espaços, entre uma série de outros aspectos dignos de análise.

Um ponto atravessa todas essas questões. É a idéia de “autenticidade”, caracterizada por significados variáveis que são determinados por práticas e contextos específicos da cena (por exemplo, quando vinculada ao processo de produção musical, a discussão do que seria “autêntico” incorre na reconfiguração dos conceitos de autoria e originalidade no trabalho de composição resultante da técnica do sampling·, todos intimamente relacionados, porém. Neste artigo, ela é abordada sob duas perspectivas: o “autêntico” como valor recorrente na produção, criação musical e legitimação dos gêneros da música eletrônica (ou dance music, termo mais comum em outros países) e, em outro plano, como elemento essencial na constituição das relações sociais estabelecidas entre os participantes da cena, no estabelecimento de hierarquias, lógicas de pertencimento, inclusão e exclusão).

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