sábado, 30 de janeiro de 2010

Ainda acerca da cultura


Ainda acerca da cultura

A pergunta é difícil e suscita respostas muito abrangentes. Num ponto tenho a certeza: a cultura é uma fonte inesgotável de riqueza pessoal.

“A cultura é essencial para quê ? Poderíamos começar assim. Mas primeiro ainda fui ao dicionário procurar a palavra “cultura”. Deparei-me com vários significados; pelo menos dois são importantíssimos.

Um: Cultura - desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades intelectuais, quer em geral, quer num domínio particular.

Dois: Cultura - maneiras coletivas de pensar e de sentir, conjunto de costumes, de instituições e de obras que constituem a herança social de uma comunidade ou grupo de comunidades. Engraçado, não é ? Como o primeiro significado da palavra “cultura” se tem vindo a revelar tão necessário para que o segundo possa ser melhor! Se não desenvolvermos as nossa capacidades intelectuais e não ampliarmos os nossos conhecimentos, teremos muito mais dificuldade em compreender corretamente outras “culturas”. Daqui surgem depois questões e conceitos como racismo, xenofobia, violência. Uma pessoa que tenha a referida “cultura” será sempre mais tolerante, mais compreensiva, mais atenta, porque sabe, porque conhece, porque entende. Poderá, assim, fazer com que a segunda definição de “cultura” seja mais coerente e efetiva; poderá fazer com que a herança social da sua comunidade seja mais pacifica,mais solidária. A cultura é essencial? Sem dúvida. Para consolidarmos a nossa comunidade numa base pacifica, tolerante, solidária com o próximo. É preciso conhecer para entender. É preciso conhecer para aceitar. Como dizia a minha avó “ o saber nunca fez mal a ninguém.” E além disso, não ocupa lugar”.

“A cultura é essencial mas não vamos supor que ter cultura é ser erudito, muito cheio de ciências e de saberes. Uma pessoa pode ter pouca instrução mas ter uma linguagem muito culta, modos muito civilizados, sempre boas maneiras. O ideal é reunir a cultura de um povo com os vastos conhecimentos que se prendem nos livros, e claro, de preferência tirar um curso mesmo médio.

Se por um lado é essencial para distinguir os costumes, os hábitos, a tradição de um povo, porque afinal de contas todos nos orgulhamos das raízes, de falarmos uma determinada língua, de nos vestirmos assim ou simplesmente de termos nascido neste país , por outro é a responsável pelas discriminações e xenofobias. Se existe racismo é devido á cultura. Muito dificilmente uma cultura aceita outra e esta “outra” é quase sempre sinônimo de inferioridade. São criados preconceitos que ao longo do tempo têm tendência a generalizar-se e tornarem-se inalteráveis. Só que tirando esta formalidade da cultura, somos todos de carne e osso, todos respiramos, todos vivemos e morremos independentemente da nacionalidade, da cor da pele ou da língua que falamos.

A cultura não é só o saber acumulado ao longo do tempo é preciso saber fazê-lo valer, para nos ajudarmos a nós próprios, através do respeito para com os outros. A cultura é saber e conhecimento, mas acima de tudo respeito e educação para com os que sofrem, os menos afortunados. Porque a ignorância faz parte de todos nós.

É essencial partilhar com os outros o conhecimento que se adquire ao longo da vida. A cultura é como água numa esponja, alguém disse e eu estou plenamente de acordo. Ser culto não é uma opção, mas sim uma obrigação!

Recordo-me de uma conversa entre a Maria e a Joaquina a dada altura diz a Joaquina para a Maria quando for grande quero ter muitos vestidos, a Maria responde eu quero ter muita cultura, mas a Joaquina pergunta-lhe se saíres á rua sem cultura és presa? A Maria diz logo não. Diz a Joaquina então experimenta saíres sem vestido. Dá que pensar, pois é um pouco a realidade que se vive num segundo plano, se não dizer último plano.

Se a cultura é essencial!? É, eu tenho a certeza que sim.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cultura e arte


Cultura e arte

Ao falar de cultura, é possível fazer um corte no sentido amplo do termo e referir-se apenas a alguns aspectos da produção humana, ligados às diferentes práticas artísticas: pintura dança, música, teatro, literatura, cinema, vídeo, escultura, entre outras. Essa produção cultural, além do caráter simbólico que toda cultura tem, existe independentemente das relações utilitárias e funcionais, ou seja, podemos dizer que elas são inúteis para a nossa vida prática. Um vaso grego, por exemplo, extrapola o valor utilitário de objeto para guardar água, vinho ou óleo. Esse vaso era feito para aparecer, para figurar entre as coisas do mundo, apoderando-se da atenção do espectador, comovendo-o, revelando significados internos que sobrevivem a cada geração. É o reflexo de uma civilização que prezava a simetria, a beleza ideal, o culto aos deuses, a perfeição do fazer artístico e artesanal.

Nesse sentido, então, nem tudo é obra de cultura e é necessário estabelecer distinções entre o que é cultura e o que é entretenimento ou diversão.

Uma obra de arte nos traz um novo conhecimento de mundo. Esse conhecimento não é lógico e racional, mas intuitivo, concreto e imediato, na medida em que nos faz compreender um sentimento de mundo. Voltando ao exemplo do vaso grego, podemos perceber que ele nos transmite o sentimento de um mundo simétrico, proporcional, razoavelmente estável e seguro. Já uma obra de arte contemporânea, como as anamorfoses de Regina Silveira, em que os objetos do cotidiano são apresentados como sombras deformadas dos objetos que existem no mundo real, nos traz o sentimento de um mundo desordenado, torto, inseguro. Um exemplo mais próximo, o videoclipe, revela a velocidade da vida contemporânea (com mudanças bruscas de cena), a fragmentação e a falta de sentido aparente.

A obra de arte, para ter esse efeito sobre nós, apresenta um modo novo de ver a realidade, porque ela não se refere necessariamente ao que de fato existe. A arte não representa o mundo como ele é, mas como poderia ser. Para isso, ela inova em termos de materiais – por exemplo, uma escultura hoje pode ser construída a partir da luz e não de materiais tradicionais como a madeira, a pedra ou o metal; ou uma obra "desenhada" com cortes sobre a tela, em vez da tinta. Inova em temas, inova em estilos e linguagens, cria novos códigos para ser fiel à sua função de evocar um sentimento de mundo.

A arte não tem a obrigação de explicar nada, não é um discurso lógico e, nesse sentido, não explica nada por conceitos. Ela nos faz sentir, por meio de uma obra concreta, uma possibilidade do mundo entrevista pelo artista. Ela nos traz a compreensão de certos aspectos do mundo.

Um produto para o entretenimento e diversão, ao contrário, é repetitivo, só confirma o que já sabemos, ajuda-nos a passar o tempo de uma forma agradável, sem que precisemos engajar nossa sensibilidade, nossos sentimentos ou nossa inteligência na sua interpretação. Ele reforça os valores da cultura em sentido amplo: sabemos de antemão que os maus serão punidos, os bons recompensados, a personagem principal não vai morrer no fim da história, e todos os problemas serão resolvidos a contento, a fim de não provocarem angústias e dúvidas a respeito da vida e do mundo. Esses produtos apaziguam, não criam polêmicas, não nos obrigam a mudar de atitude ou modo de ser e pensar. Eles são construídos respeitando e reafirmando os códigos da cultura dentro da qual são criados. Por isso mesmo, têm o poder de entreter e divertir.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Cultura ou culturas?
Cultura ou culturas? eis a questão...

Devemos falar de uma só cultura ou de muitas culturas? Mesmo dentro de um país, existe uma cultura homogênea, ou várias culturas que se sobrepõem, coexistindo lado a lado?

Na verdade, basta olhar ao nosso redor para sabermos que há muitas culturas dentro de cada país. No caso do Brasil, temos contribuições culturais da colonização pelos portugueses, dos povos indígenas que habitavam estas terras, dos africanos que foram trazidos como escravos, dos imigrantes italianos, alemães, japoneses, coreanos. O que mantém a unidade, entretanto, entre essas várias culturas é a ocupação de um mesmo território, o uso da mesma língua, o compartilhamento de uma mesma história nacional.

É possível, entretanto, falar também de cultura caipira, cultura rural, cultura sertaneja, cultura urbana, cultura nordestina, cultura paulista, cultura carioca e assim por diante, apenas considerando a diversidade geográfica do país e os diferentes tipos de vida de cada um desses grupos.

É só comparar a cultura do Rio Grande do Sul com a do Amazonas para sabermos que as diferenças também são imensas. Do ponto de vista geográfico, o estado do Rio Grande do Sul é dominado pelos pampas, ou seja, por grandes planícies de vegetação rasteira, adequadas para a criação de gado em grandes fazendas. O clima é subtropical, com quatro estações bem demarcadas. O tipo de ocupação dessas terras dá origem à cultura gaúcha, da qual fazem parte o chimarrão, a bombacha, a chimarrita, o churrasco feito a céu aberto, um vocabulário adequado às necessidades e tradições da região. Essa cultura, ainda hoje, é preservada nos Centros de Tradição Gaúcha, que se encarregam de transmiti-la a crianças e jovens, mantendo-a viva no cotidiano de seu povo.

Na Amazônia, ao contrário, a presença da floresta, dos grandes rios e dos igarapés, das várias tribos indígenas levam ao florescimento de uma outra cultura, mais ligada ao modo de vida ribeirinho, dependente da pesca e da coleta. As histórias, as festas, os mitos fazem menção aos animais da floresta que trazem sorte ou azar, mesclando-os a personagens da corte portuguesa.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A importância da Arte na cultura


Tudo é cultura?

Sim e não, dependendo de usarmos o conceito amplo de cultura ou o conceito restrito. Considerando, em primeiro lugar, o conceito amplo ou antropológico, cultura é o modo como indivíduos ou comunidades respondem às suas próprias necessidades e desejos simbólicos. O ser humano, ao contrário dos animais, não vive de acordo com seus instintos, isto é, regido por leis biológicas, invariáveis para toda a espécie, mas a partir da sua capacidade de pensar a realidade que o circunda e de construir significados para a natureza, que vão além daqueles percebidos imediatamente. A essa construção simbólica, que vai guiar toda ação humana, dá-se o nome de cultura.

A cultura, nesse sentido amplo, engloba a língua que falamos, as idéias de um grupo, as crenças, os costumes, os códigos, as instituições, as ferramentas, a arte, a religião, a ciência, enfim, toda as esferas da atividade humana. Mesmo as atividades básicas de qualquer espécie, como a reprodução e a alimentação, são realizadas de acordo com regras, usos e costumes de cada cultura particular. Os rituais de namoro e casamento, os usos referentes à alimentação (o que se come, como se come), o preparo dos alimentos, o tipo de roupa que vestimos, a língua que falamos, as palavras de nosso vocabulário, tudo isso é regulado pela cultura à qual pertencemos. A função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade humana. Ela é o "cimento" que dá unidade a um certo grupo de pessoas que divide os mesmos usos e costumes, os mesmos valores.

Deste ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo o que faz parte do mundo humano é cultura.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Aprendizado cultural


Aprendizado cultural

Uma vez que a cultura é uma construção de grupos humanos, anterior a cada um de nós, precisamos aprender os modos de nossa cultura. Esse aprendizado se inicia no momento em que nascemos, pois o próprio modo do parto é cultural. Aprendemos com quem toma conta de nós, com as roupas em que estamos vestidos, com os sons da língua materna e assim por diante. Esse aprendizado se dá de modo informal, dentro do ambiente em que vivemos com todas as pessoas responsáveis por cuidar de nós. Aprendemos por imitação, por tentativa e erro, castigo e premiação. Aprendemos por meio das palavras, mas também por meio dos comportamentos e atitudes dos outros. A partir do momento em que a criança entra na escola, ela passa para o sistema formal de aprendizado: aprende as regras da língua padrão, Geografia, História, Ciências, Artes, Educação Física e também regras de convívio social entre seus pares (outras crianças), entre crianças e professores, funcionários, dirigentes. Esse convívio social, entretanto, não é parte do "conteúdo formal" de nenhuma disciplina. Continua sendo ensinado por meio do comportamento e das atitudes de todos os envolvidos.

Tudo isso diz respeito apenas à cultura de origem, ou seja, à cultura à qual a criança pertence. Ela conhece somente um modo de cultura, o seu, que se torna sua "segunda pele" e é encarada como o modo "normal", único mesmo, de fazer as coisas, de se comportar. Nesse sentido, a cultura é importante para o funcionamento do grupo, e o aprendizado cultural é indispensável para que cada indivíduo se adapte ao seu grupo. Entretanto, é de extrema importância que cada um também aprenda a contribuir para a sua cultura, criando idéias, objetos, ferramentas, colaborando no desenvolvimento de várias linguagens, enfim, mantendo sua cultura viva e adequada às necessidades do grupo.

Do mesmo modo, é preciso aprender a interpretar a arte, seja ela um filme, uma peça teatral, um espetáculo de música, dança, circo, artes visuais, performance, happening uma vez que a arte é um dos modos humanos de atribuir significados ao mundo.

Aprende-se arte convivendo com obras de arte, seja na escola, em museus, em casa, no cotidiano de cada um. A freqüentação, como é chamada essa convivência com as obras de arte, ajuda a construir um certo "vocabulário" de estilos, de artistas, épocas, linguagens, suportes. Aprende-se arte por meio do fazer artístico, explorando linguagens e materiais, o que nos faz compreender melhor as dificuldades e as soluções encontradas pelos artistas. A convivência com a arte nos mostra soluções variadas para cada um desses problemas.

Aprende-se arte, ainda, pelo estudo da história da arte e das linguagens artísticas, bem como pelo estudo da estética, isto é, dos diversos conceitos de valor em arte.

A cultura, portanto, é o que torna a vida humana possível no mundo. Ela é, ao mesmo tempo, um produto já elaborado pelas gerações que nos precederam, e um processo contínuo de adaptação dessa herança recebida a novos modos de vida, novos problemas, novas necessidades. E, nesse processo, a arte, por não ter utilidade prática imediata, é um campo privilegiado de experimentações, de crítica, até mesmo de denúncia de práticas sociais ultrapassadas. Por meio das obras de arte, é possível vislumbrar outros valores importantes para a vida humana.