sábado, 27 de junho de 2009

O que é a Cultura

A cultura é aquilo que menos espaço ocupa na memória; quanto mais se tem, na maior parte dos indivíduos, mais leves, soltos, independentes e livres se tornam. Quem mais cultura tem, mais próximo fica de conseguir o fenômeno da levitação virtual.No entanto há cultura e culturas. O segredo está naquilo que sabemos valorizar e simultaneamente saber o que desprezar: as que valoramos são as culturas que aceitamos; as que desprezamos são as más culturas. A nossa pura intuição cultural faz-nos funcionar como se tivéssemos um ?nariz? intelectual radical dentro de cada neurônio, pelo qual ?cheiramos? bem a cultura aceitável e rejeitamos as culturas híbridas ou que nos ?cheiram? mal. As que nos ?cheiram bem? parecem-nos perfumes com forte odor que pode durar toda a vida; as que nos ?cheiram mal? emitem como que um fedor cada vez maior, e que pretendemos que dure quanto menos tempo melhor. Tornando- nos susceptíveis e afastando-nos para não sermos contagiados com as suas desagradáveis emissões de ?mau cheiro?.

A cultura, metaforicamente continuando este raciocínio, é como os cogumelos: todos sabemos que há os bons, que são comestíveis; e há os maus, que nos envenenam e matam.Entre o viver e o morrer de cogumelos, há a confusão; ou seja: o fato de ter muita cultura não significar que se esteja mais certo, do que aqueles que tem uma supostamente considerada fraca cultura. Ou seja um ?burro? carregado de livros não é necessariamente um doutor. Significa isto que não é só a quantidade nem a qualidade que conta: é também, e sobretudo, a massa crítica que se desenvolve; a fundamentação lógica dos argumentos; a coragem de assumir a verdade, face às contra correntes de opinião que se levantam; a probabilidade dos fatos culturais acreditados ou inventados serem reais e verdadeiros, mesmo que abstratos ou empíricos, mas que não podem ser considerados como tal por observância de prioridades em conveniências sociais. Ao conservadorismo social ou individual nunca interessa questionar, esses fatos, e sempre lhe irão resistir.


sábado, 20 de junho de 2009

Cultura popular, música popular e artesanato

imagem capturada na internet

Cultura popular, música popular e artesanato

O termo cultura popular é preconceituoso porque divide a população entre “elite” e “povo”, sendo o povo a parcela pobre e sem educação. A cultura popular seria, portanto, uma espécie de reflexo rude da cultura erudita e a sua afirmação a partir da cultura popular definiria seu domínio cultural sobre outras parcelas da população.
A denominação da música como popular leva essa caracterização em conta, na medida em que o termo popular afasta esse tipo de música da música clássica, que seria parte da cultura da elite, e também a afasta do termo música folclórica, indesejado por sua ligação com a tradição e dessa forma com a falta de originalidade.

Do mesmo jeito o artesanato, uma forma de produção tradicional, é desvalorizado pela sociedade industrial. De acordo com García Canclini, em seu texto sobre a venda do artesanato indígena no México, o tratamento dispensado ao artesanato pela sociedade é uma forma de afirmação de poder da cultura dominante sobre a dominada. A venda do artesanato o define como uma arte secundária, já que ele não vai ser exibido em galerias e admirado, mas sim servir como enfeite ou objeto de uso comum para uma pessoa de outra classe social e outra cultura, ou ainda como forma de ostentação, no caso de jóias e mobília trabalhada.

O comércio do artesanato vai servir para sustentar uma família indígena que antes não pertencia ao modo de produção capitalista, mas que será inserida nele com a venda de sua produção artística. Isso estabelece uma relação de cultura dominadora e cultura dominada, já que faz parte desse contexto da dominação cultural que a cultura dominadora se insira no ambiente das culturas dominadas, através de roupas, eletrodomésticos e da inserção no imaginário da cultura dominada de desejos de consumo que antes não existiam.

A música popular usa essa denominação para fugir desse afastamento que o artesanato apresenta: ele é fruto da tradição, de algo que não é novo e não pertence ao povo, mas aos seus antepassados. Dessa forma, ela consegue um apelo comercial de que a música folclórica não desfruta. A música popular é o novo, é o encontro da tradição com a atualidade, e é distante da elite, assim como a denominação da parcela pobre da população de “povo”.

No entanto, ambas as produções, a música e o artesanato, são produtos da cultura popular, se chamarmos de popular o que é feito pelas pessoas de uma sociedade, não importando seu nível de educação ou de adequação junto à elite ou junto aos grupos de maior tradição cultural. No entanto, a denominação da música como popular lhe atribui um significado que facilita a sua circulação no meio comercial e a sua assimilação pela população, enquanto o artesanato fica restrito a ser visto e comercializado como produção de uma cultura dominada e que acaba sendo vista como inferior.

Biliografia consultada:
O que é cultura popular, Antoni Augusto Arantes. Ed. Braziliense


sábado, 13 de junho de 2009

Identidade Cultural

Desde o surgimento do homem, após o agrupamento do mesmo e o convívio social, uma troca de experiências e reciprocidade foi estabelecida.

Todo o conjunto de conhecimentos e modos de agir e pensar dá origem à cultura, toda sociedade tem a sua, pois não existe sociedade sem cultura, independentemente do lugar.

Um recém nascido em seus primeiros minutos já começa, de certa maneira, a se socializar, pois existem várias pessoas ao seu redor criando uma relação social e cultural, quando estiver falando ou aprendendo a falar ele vai adquirir uma língua que é sem dúvida uma herança cultural, sem contar o seu modo de vestir que vai variar conforme o país, a alimentação, os rituais entre outros.

A identidade cultural caracteriza as pessoas pelo modo de agir, de falar, é como se as “rotulasse” a partir dos modos específicos de sua cultura.

A cultura é fruto da miscigenação de diferentes povos que introduziram seus hábitos e costumes, com o contato de uma cultura e outra, pode gerar uma cultura ainda mais diferente.

A identidade cultural move os sentimentos, os valores, o folclore e uma infinidade de itens impregnados nas mais variadas sociedades do mundo, e apresenta o reflexo da convivência humana.

CONFERIR: HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 3º ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999.

sábado, 6 de junho de 2009

Música e rótulos

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Música e rótulos

“Cada tipo de música traz consigo uma maneira própria de se pensar sobre música, como se esta fosse a única maneira de se pensar sobre música (e esta, a única música a ser examinada)”.

E traz também um modo peculiar de escuta. E também um jeito de se conversar sobre essa música. E uma atitude estética com relação a tudo.

É por isso que você odeia sertanejo com todas as suas forças. A música pode não ser grande coisa, mas o que você odeia mesmo – talvez mais que a música em si – é o contexto, a cultura que cerca aquele estilo, o jeito de falar da música, os valores de quem gosta daquilo.

Nós não somos capazes de isolar a música desses contextos. Na nossa mente, é tudo uma coisa só.E acho que Cook vê isso como um tipo de prisão, o que eu concordo. No caso do sertanejo, você pode achar que faz sentido colocar tudo num saco só e pensar que quem está envolvido na produção daquela música é igual a quem consome: tudo horroroso.

Não é isso que eu estou discutindo aqui. Principalmente porque o argumento de Nicholas Cook independe do gênero musical: ele se aplica a todo tipo de música. Em outras palavras, alguém está te enquadrando num tipo específico de “tribo” por causa do tipo de música que você ouve. Mesmo que você esperneie e diga que ouve heavy metal, mas toma banho todo dia.

Nicholas Cook está dizendo que nós aplicamos formas fixas de pensamento a outros gêneros e passamos a pensar música naqueles termos somente. Se você só ouve música clássica, acaba criando resistência a ouvir outros estilos porque seus hábitos de escuta e a linguagem que você usa pra falar daquela música treinaram a sua percepção e seu gosto. Mas mais importante que isso, a cultura da música clássica pode impedir que você entenda e aprecie uma cultura musical diferente como jazz, por exemplo.

Isso porque você já associou música clássica a sofisticação, erudição, refinamento, introspecção, sobriedade, sisudez, melancolia e maturidade. E rock você já associou a rebeldia, energia, imaturidade, emoção, juventude, inconseqüência e liberdade. Não é capaz de aplicar as características de um estilo no outro.

Esses adjetivos são, na verdade, elementos extra-musicais, atitudes que aparecem principalmente na biografia dos músicos. Aparecem também nas letras das músicas, claro, o que não deixa de ser importante. No entanto, tais palavras passam a ser a própria definição daquele gênero musical e são adotadas como filosofia de vida pelos ouvintes. E tornam-se a própria definição de música.

“Rock é rebeldia”! “Beethoven é melancólico”, diz você.
E só aprendemos a ouvir música sem tais rótulos depois de algum treino. A maioria não aprende.
E precisa aprender a fazer isso pra poder curtir a música? Pergunta você.
Não. Mas é meu trabalho ficar perguntando essas coisas.